Sem-abrigo dão lugar aos “sem-emprego”. Classe média recorre a cantinas sociais
20 set, 2012 • Pedro Mesquita
Na cantina social da Santa Casa da Misericórdia do Porto, a procura é cada vez maior. Tanta que já há lista de espera. Abriu em Maio, a servir 65 refeições que, de repente, esgotaram.
São cada vez mais as pessoas de classe média que procuram auxílio junto dos organismos das Misericórdias. Na cantina social da Santa Casa da Misericórdia do Porto, o perfil dos utilizadores tem-se alterado com a crise.
No nº 67 da rua Duque de Loulé, é hora da refeição e, discretamente, já há quem espere à entrada da cantina social. Opta por não me dizer o nome, mas diz ao que vem e porquê: “Tenho uma filha, estou com o rendimento mínimo, só que é muito baixinho, não dá para tudo. Estou desempregada há quatro anos. Tenho de vir aqui. É a única solução que tenho para sobreviver”.
É a chamada classe média empobrecida que mais procura esta cantina. Antes, eram sobretudo os sem-abrigo; agora são os "sem-emprego".
Atravessando a porta, subindo as escadas, chega-se à cozinha, onde Ana apura o estufado: “Estou a fazer jardineira para 50 pessoas e depois para levar fora para 22 pessoas”. A esta cantina “vem de tudo. Muitas pessoas sem emprego... isto agora está mau e cada vez há mais pessoas na Casa da Rua. Há pessoas que já viveram muito bem e agora...”, conta a cozinheira.
A verdade é que o perfil da procura mudou com a austeridade. “Vemos já muita procura de famílias, principalmente na parte da cantina social, porque podem levar as refeições para casa, mas mesmo o perfil dos próprios utilizadores da instituição tem vindo a mudar”, confirma à Renascença Sandra Arouca, a directora técnica desta Casa da Rua.
São maioritariamente “pessoas que tinham trabalho até há pouco tempo, que vieram de uma situação de divórcio e que recorreram à Casa da Rua para fazer a alimentação”, acrescenta.
A procura é diferente e é cada vez maior. Tanta que já há lista de espera: “Para termos uma noção, em Maio abrimos a cantina social ao abrigo do programa de emergência alimentar e, de repente, as 65 refeições que estavam protocoladas com o Estado esgotaram e, neste momento, temos lista de espera”.
Esta cantina social foi planeada para oferecer 65 refeições diárias: 40 são levadas para casa, 25 servidas directamente nesta casa. Onde comem dois comem três e a manta vai sendo esticada, mas o espaço físico já não dá para muito mais.