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Campanha "Direito à Alimentação" de pratos vazios

14 nov, 2011 • Fátima Casanova

Restaurantes não aderiram à campanha que pretendia dar comida aos mais necessitados.

Não correspondeu às expectativas a campanha “Direito à alimentação”, patrocinada pelo Presidente da República e que tinha como objectivo dar as refeições que sobravam nos restaurantes às pessoas mais carenciadas. O sector não aderiu.

“Havia alguma expectativa, da minha parte e de todos quantos assinaram. Estou à espera de resposta. O projecto era interessante e tinha tudo para dar certo”, afirma à Renascença António Costa Pereira, da comissão de honra da campanha e pioneiro na mobilização da sociedade contra o desperdício alimentar.

A campanha foi lançada no dia 10 de Dezembro de 2010. Passado quase um ano, a expectativa caiu por terra. A Associação de Hotelaria e Restauração (AHRESP), que lançou o projecto, recusa-se a fazer um balanço, apesar dos pedidos que a Renascença tem feito desde Julho.

Depois de meses de insistência, com marcações de entrevista e sucessivos adiamentos, a AHRESP acabou por dizer que o momento não é oportuno para falar sobre a campanha. Garante apenas que está a decorrer em 91 municípios.

Mas, com a lista na mão, bastam uns telefonemas para concluir que em grande parte das autarquias nada foi feito. É o caso de Loures e Sintra, na Grande Lisboa, bem como de outros como Viseu, onde nenhum restaurante se inscreveu na iniciativa.

A Renascença contactou também com algumas autarquias e percebeu que muitas delas abandonaram o projecto, apesar de o seu nome constar da lista da AHRESP.

Da comissão de honra do “Direito à Alimentação” fazem parte 15 entidades, entre bancos, empresas, a Associação Nacional de Municípios e a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, a quem, diz António Costa Pereira, a AHRESP devia apresentar resultados.

“Tenho a expectativa de que o irão fazer. Perante a expectativa que foi criada, perante tanta gente envolvida, tantas instituições que assinaram e o próprio Presidente da República, obviamente que vão ter de dar resposta, não se podem refugiar”, considera.

A Renascença contactou a assessoria de imprensa do Palácio de Belém, mas só conseguiu o silêncio.


Ir além das sobras
Mas houve municípios que conseguiram mobilizar os restaurantes. É o caso do Entroncamento, onde o compromisso passa por confeccionar refeições para quem precisa. Para garantir que haja sempre comida disponível para quem precisa, não se fala em aproveitar sobras, que é a base da campanha “Direito à Alimentação”.

“Não se trata propriamente daquilo que inicialmente se tinha pensado nesta campanha – oferecer o que sobra. Os restaurantes contam com ‘x’ número de pessoas para aquele dia e confeccionam para os seus clientes e para as pessoas que estão inseridas na campanha. Tenho receio de que hoje para amanhã não se consiga garantir a prestação deste serviço”, refere à Renascença a vice-presidente da Câmara do Entroncamento, Paula Pereira.

A autarquia identificou as famílias necessitadas e fez a ponte com os restaurantes, que assumiram o compromisso diário de fornecer as refeições. Oito famílias locais conseguem assim, pelo menos, uma refeição diária.

O projecto arrancou com quatro restaurantes, um deles desistiu.