28 ago, 2015 • André Rodrigues
Mais de 200 pessoas morreram num novo naufrágio no Mediterrâneo. É o mais recente balanço da tragédia que ocorreu na noite de quinta-feira. O número é avançado pela televisão pública italiana (RAI), a BBC e a agência Reuters e confirma os receios iniciais de que poderemos estar perante uma nova tragédia humana – uma hecatombe, como já foi admitido pelas autoridades.
Dois barcos zarparam durante a noite de Zuwara, uma localidade costeira próxima da fronteira com a Tunísia e que é ponto de encontro habitual de milhares de refugiados de diversas nacionalidades que tentam atravessar o Mediterrâneo até chegarem à Sicília.
Também nas últimas 24 horas, um navio da marinha sueca aportou em Palermo com 52 cadáveres e quase 600 sobreviventes a bordo.
Em ambas as situações, vítimas e sobreviventes são na maioria oriundos da Síria, da Palestina, de Marrocos, África Subsaariana e até do Paquistão e Bangladesh – um dado confirmado à Renascença por Francesco Vigneri, do Observatório de Imigração da Sicília.
Vigneri fala de uma “vaga interminável de refugiados que, depois de identificados, estão a ser distribuídos por diversos campos temporários de acolhimento antes de partirem para outros países da Europa”.
De acordo com a BBC, que cita fontes oficiais, das perto de 200 pessoas resgatadas com vida destes naufrágios, 150 foram encaminhadas para um centro de acolhimento de imigrantes em Sabratha, uma cidade a oeste de Tripoli, a capital da Líbia.
Drama humanitário sem fim à vista
A crescente instabilidade no Médio Oriente e no Norte de África faz da Líbia uma passagem quase obrigatória para os imigrantes que querem chegar à Europa para escapar aos conflitos e à pobreza.
Muitos morrem só na tentativa. Só este ano, mais de 2.300 pessoas perderam a vida na travessia do Mediterrâneo. Durante todo o ano passado, foram cerca de 3.300. “Se a tendência se mantiver, teremos no final do ano um número muito superior do que em 2014”, alerta Francesco Vigneri.
O responsável do Observatório de Imigração da Sicília defende que “a Europa não tem outra opção a não ser salvar estas pessoas. Seria ridículo pensar que podemos bloquear a entrada destes refugiados”.
Vigneri reconhece, contudo, o “enorme peso político desta matéria”, porque “não é fácil para os governos convencer as opiniões públicas a aceitarem esta vaga interminável de refugiados, sobretudo numa altura em que a Europa atravessa uma crise tão profunda”.
Francesco Vigneri conclui, por isso, que “está na hora da Europa desempenhar o seu papel como uma comunidade unida, capaz de partilhar responsabilidades para que os cidadãos deixem, de uma vez por todas, de pensar que estamos a ser invadidos por estas pessoas”.
[Notícia actualizada às 9h00, com mais dados e declarações de representante do Observatório de Imigração da Sicília]