Duelo Varoufakis/Dijsselbloem aquece. Quem tem mais credibilidade?

27 jun, 2015

O presidente do Eurogrupo e o ministro grego das Finanças discordaram em quase tudo. Houve apenas uma coisa em que se equivaleram: ambos deram um grande contributo para o aumento da tensão.

Duelo Varoufakis/Dijsselbloem aquece. Quem tem mais credibilidade?

O presidente do Eurogrupo, Jeroen  Dijsselbloem, e o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, travaram mais um duelo esta tarde em Bruxelas. As narrativas foram diametralmente opostas e os ataques e contra-ataques marcaram as duas conferências de imprensa.

Primeiro, palco para Dijsselbloem. O holandês pensa que “o governo grego tem um problema de credibilidade”.

Minutos depois, numa outra sala, Varoufakis agradece a pergunta do jornalista que o confronta com a afirmação do presidente do Eurogrupo. E introduz: “É uma questão muito interessante”. Prepara o contra-ataque e dispara: “No que diz respeito à credibilidade, há um grande abuso no uso dessa palavra no Eurogrupo. É verdade que os governos gregos  por muitos anos tiveram falta de credibilidade. Mas também é verdade que as instituições que estão no Eurogrupo têm falta de credibilidade em países como a Grécia onde um memorando de entendimento foi imposto por cinco anos e foi um falhanço claro”.

Mas não era tudo, Varoufakis tem mais uma crítica na manga. “Seria uma grande contribuição para a Europa parar com as recriminações e com o apontar de dedos”.

Não basta querer é preciso crer
Já antes, o presidente do Eurogrupo fazia outro reparo ao Governo grego. Dijsselbloem diz que não chega aceitar um programa é preciso acreditar nele.

“A nossa experiência ao longo dos anos com diferentes programas é que a única maneira de resultarem é haver credibilidade – os governos tem de acreditar que pode ser duro no curto prazo, mas trará resultados a longo prazo”, explica o presidente da instituição que junta todos os ministros das Finanças da zona Euro.

“E se um governo falou tão negativamente acerca de um plano, como o primeiro-ministro grego, há pouca credibilidade de que mesmo depois de um sim [num referendo] o governo grego ponha as medidas em prática de uma maneira correcta e efectiva”, acrescentou Dijsselbloem.

Varoufakis volta de novo à cena. Ou seja, mais um momento de reforço da narrativa grega. “Quaisquer que fossem as medidas o que eles queriam [credores] eram um terceiro resgate”.

No momento actual, há uma grande interrogação que foi verbalizada por um jornalista na conferência de imprensa: “O que é que os gregos votarão no dia 5 de Julho se antes a Grécia vir interrompido do financiamento?”

Dijsselbloem atira em primeiro lugar: “Essa é uma questão que terão de colocar ao governo grego”.

Mas depois desenvolveu: “Se vencer o não, o povo grego pode pensar que pode ser encontrado um acordo melhor e que as negociações podem reabrir. Mas temos de ter consciência que o problema é que, nesse período, a situação grega vai deteriorar-se muito rapidamente. Não há tempo”.

“As autoridades gregas pediram um mês de prolongamento, mas nesse mês o programa continua sem estar em prática. Como é que o governo pensa sobreviver nesse período? Não sei”, frisou o presidente do Eurogrupo.

Sobre o referendo, Varoufakis foi claro: “O sr. Dijsselbloem ficaria feliz se puséssemos em prática uma proposta com a qual não concordamos sem termos o voto do povo grego. Vamos ser sérios: o nosso governo comprometeu-se a implementar o voto dos gregos. Se o nosso povo quiser que assinemos, assinamos mesmo que isso leve a uma remodelação governamental”.

E a seguir rematou: “O primeiro-ministro, Alexis Tsipras e nós – a equipa negocial – comprometemo-nos a garantir que o povo grego mantem a soberania. Nós somos os agentes, o povo grego é que manda. Eles é que nos dizem o que fazer. Se dizerem para assinar, assinamos”.

A reunião dos ministro das Finanças continua a esta hora, mas com uma baixa. A Grécia por falta de convite. “Não fomos convidados para uma reunião não oficial em que vão discutir as consequências do que aconteceu”.

Proposta grega rejeitada
Os ministros das Finanças da zona euro rejeitaram a proposta grega para prolongar o programa de assistência por mais um mês, avança o Wall Street Journal.

Entretanto, a ZDF avança que a reunião vai continuar, após uma conferência de imprensa, mas já sem o ministro grego.

O programa de ajuda à Grécia termina a 30 de Junho. O Governo grego quer realizar um referendo sobre esta questão a 5 de Julho.

Líder da Nova Democracia pede audiência ao Presidente
O líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, pediu uma audiência ao Presidente grego. O anúncio foi feito por fonte da presidência depois de os partidos da oposição se terem mostrado contrários ao referendo proposto pelo governo liderado por Alexis Tsipras.

Samaras já se mostrou disponível para participar num governo interpartidário para salvar o país da bancarrota.