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Os "12 trabalhos" de Tsipras e Varoufakis

06 fev, 2015 • Ricardo Conceição/Eva Gaspar/Francisco Sarsfield Cabral

Numa altura em que o Primeiro-ministro e o ministro grego das Finanças andam num périplo europeu, importa saber o que espera o Governo de Atenas obter dos parceiros.

Os "12 trabalhos" de Tsipras e Varoufakis

A semana ficou marcada por viagens diárias de capital em capital de parceiros europeus, com Tsipras e Varoufakis à procura de apoios para um acordo com a União Europeia.

Ontem mesmo, o ministro grego das Finanças esteve reunido em Berlim com o seu homólogo alemão e, no final, não houve acordo. Em estúdio, Eva Gaspar, jornalista do “Jornal de Negócios” e Franscisco Sarsfield Cabral ajudam a interpretar os sinais vindos da Grécia.

Em declarações à Renascença, o líder dos deputados do Syriza no Parlamento Europeu, Dimitrios Papadimoulis, disse que a Grécia e a Europa precisam de um novo acordo para a economia crescer e para fazer baixar o desemprego.

O também vice-presidente do Parlamento Europeu acredita que as actuais negociações vão trazer mudanças na política económica da União. Em entrevista ao correspondente da Renascença em Bruxelas, Vasco Gandra, diz pensar que “a economia europeia e a Zona Euro precisam de algumas mudanças. Algumas começaram antes das eleições na Grécia. Tivemos o QE ["Quantitative Easing", decisão do BCE de comprar dívida pública dos países da Zona Euro], o "plano Juncker" [de grandes investimentos], a decisão da Comissão Europeia de introduzir mais flexibilidade no Pacto de Estabilidade e Crescimento. E agora temos o grande perigo da deflação e da recessão na Zona Euro. Por causa da crise, temos um crescimento das desigualdades nos últimos cinco anos: o aumento do desemprego e da pobreza, e das desigualdades sociais e regionais. Por isso, precisamos de um "New Deal" europeu para voltarmos a crescer economicamente, para estabilizarmos a situação, reduzirmos o desemprego, aumentarmos a coesão e a solidariedade”.

O líder do Syriza no Parlamento Europeu queixa-se da forma como o partido é visto: “Os nossos opositores apresentam-nos como antieuropeus, populistas, extremistas e monstros. Mas a nossa proposta é criar um "New Deal" europeu para ajudar ao crescimento da economia e da coesão e reinvestir nos princípios fundadores do processo de unificação europeia: crescimento, coesão, solidariedade e democracia”.

Quanto a uma eventual renegociação do Pacto de Estabilidade e de Crescimento ou uma maior flexibilidade na sua aplicação, Dimitrios Papadimoulis explica que tentam “construir pontes e consensos porque é a única forma de tomar decisões na Europa. Queremos trabalhar na ideia de uma maior flexibilidade para excluir os investimentos públicos do cálculo dos défices ou para incluir a dimensão social nos critérios de selecção dos investimentos que vão ser financiados pelo "plano Juncker". Assim, estes investimentos podem ir para as regiões com elevado desemprego ou para as que registaram uma grande queda de investimentos nos últimos anos. Isto é para reforçar a dimensão da coesão. Temos uma moeda comum, mas precisamos de ter uma política económica comum. Precisamos de mais Europa, mas que defenda os interesses de uma larga maioria da população e não apenas dos banqueiros e dos ricos”.

Já no que respeita a uma possível união dos países em maiores dificuldades para negociar com os parceiros europeus, o Syriza acha que “é uma questão em aberto. Em todo o caso, nós não queremos fazer uma coligação contra ninguém, uma coligação do Sul contra o Norte da Europa, ou contra o Centro da Europa ou contra a Alemanha. Nós respeitamos todos os países e governos europeus, mas, ao mesmo tempo, também queremos ser respeitados. Estamos prontos para encontrar soluções de compromisso para a Europa no seu todo. A necessidade urgente é criar um "New Deal" para o crescimento e a estabilidade da economia europeia porque os programas de austeridade unilateral falharam”.

Eva Gaspar acha que a reunião de ontem acabou por ser o ponto alto da semana e, apesar da tensão que se sentiu, “houve peças que se moveram esta semana”, apesar de ainda não se perceber muito bem o que o Governo grego quer fazer em concreto.

“As posições estão talvez mais próximas porque houve recuo da posição grega, mas é preciso perceber que medidas do programa eleitoral vão deixar cair”.

Já Francisco Sarsfield Cabral, diz não entender bem o que pretende o Syriza neste momento: “não sei mesmo se, apesar de dizerem que não, não estão realmente interessados em abandonar o euro”. E acrescenta que “tudo o que têm decidido tem implicações no equilíbrio das contas públicas”.

Para a semana há Conselho Europeu, mas antes haverá um encontro extraordinário dos ministros das Finanças que poderá definir um pouco melhor, segundo Eva Gaspar, “o que pretendem os gregos nesta altura”. A decisão esta semana do BCE de não aceitar mais dívida grega, é uma decisão “legítima e oportuna” e já tinha acontecido nos seis meses posteriores às eleições de 2012. “É preciso perceber o que é que Atenas quer quando estamos a poucos dias do dia 28”, quando acaba o presente resgate, acrescenta.