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Hepatite C

Doente interrompe debate com ministro. “Não me deixe morrer, eu quero viver”

04 fev, 2015

José Carlos Saldanha, que aguarda ter acesso ao tratamento, ofereceu-se para pagar metade do custo dos medicamentos.

Doente interrompe debate com ministro. “Não me deixe morrer, eu quero viver”
"Não me deixe morrer, eu quero viver", gritou José Carlos Saldanha, doente que aguarda tratamento contra a hepatite C, ao dirigir-se ao ministro da Saúde, durante uma audição que decorre na Comissão Parlamentar da Saúde. Segundo afirmou, este doente com hepatite C há 18 anos, enviou uma carta ao ministro onde se disponibilizou para pagar metade dos 42 mil euros, mas não recebeu qualquer resposta da parte do Ministério da Saúde.

"Não me deixe morrer, eu quero viver", gritou esta quarta-feira José Carlos Saldanha, doente que aguarda tratamento contra a hepatite C, ao dirigir-se ao ministro da Saúde, durante uma audição que decorre na Comissão Parlamentar da Saúde.

José Carlos Saldanha, acompanhado pelos filhos de duas doentes com hepatite C, uma das quais falecida recentemente, assistiu a várias horas de debate sobre o estado das urgências hospitalares, mas também sobre o acesso aos tratamentos contra a hepatite C.

No meio da discussão, o doente levantou-se e, dirigindo-se a Paulo Macedo, gritou: "Não me deixe morrer, eu quero viver".

Segundo afirmou, este doente, com hepatite C há 18 anos, enviou uma carta ao ministro onde se disponibilizou para pagar metade dos 42 mil euros, mas não recebeu qualquer resposta da parte do Ministério da Saúde.

O doente, que tem uma cirrose descompensada e é acompanhado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, garante que o pedido para receber o mesmo medicamento está no Infarmed desde Dezembro. "Tenho uma filha e não quero morrer. O que se está a fazer é um genocídio", resume.

José Carlos Saldanha pediu depois desculpa aos deputados pela sua intervenção, não sem antes avisar Paulo Macedo: "A si, eu vou encontrá-lo".

A intervenção causou celeuma, com o deputado do PSD a solicitar que os restantes dois elementos e filhos de doentes deixassem a sala onde decorre a Comissão Parlamentar da Saúde saíssem, proposta que não foi acatada.

Na comissão, o ministro da Saúde reconheceu a necessidade de alargar os critérios para os doentes terem acesso aos tratamentos inovadores contra a hepatite C. Paulo Macedo assegurou que os doentes que têm indicação da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica e critérios para tomar o medicamento, todos estão a ser tratados.

"O que precisamos é de alargar os critérios, não para apenas estes doentes que estão em risco de vida, mas também para os que possam vir a beneficiar mais deste tratamento", disse.

Sobre as negociações, o ministro reafirmou: "Não aceitamos que nos imponham uma política de preços totalmente opaca".

Segundo Paulo Macedo, estão actualmente a ser tratados 630 doentes, com combinações entre vários medicamentos, em ensaios clínicos e com fármacos de três laboratórios, mais os cem tratamentos oferecidos pelo laboratório que comercializa o Sofosbuvir.

"Alguém tem de ser responsabilizado"
O filho da mulher de 51 anos que morreu, David Gomes, esteve também na sala onde o ministro foi ouvido pelos deputados. Entraram três pessoas para os lugares reservados ao público, o que está previsto no regimento.

David Gomes explica a sua presença: “O objectivo de estar aqui é ajudar outros doentes e lutar com tudo pela minha mãe, que já cá não está, e fazer tudo para achar o responsável. Alguém tem de ser responsabilizado”, afirma.

“O ministro só fala em dinheiro, e enquanto isso, vão morrendo doentes. Ele, no mínimo, devia comprar medicamentos para os doentes que estão em fase terminal ao preço que custe, porque uma vida não tem preço. Porque se fosse a filha dele, de certeza que o medicamento já tinha saído”, criticou ainda David Gomes.

Questionado se vai apresentar queixa em tribunal contra o ministro, a resposta foi clara: “Sem dúvida alguma”.
 
David Gomes é filho de uma doente que morreu com hepatite C. Alegadamente, a autorização para a administração de um medicamento inovador chegou demasiado tarde.