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Grécia: “As coisas começam a mudar num sítio pequeno e depois… cabummmm!Espalham-se pelo mundo”

25 jan, 2015 • Ricardo Conceição, em Atenas

Gregos acreditam numa mudança de rumo e de políticas. Essa mudança crêem começa na Grécia, mas pode-se alastrar a outros pontos do globo. As dúvidas da primeira parte da equação vão ficar desfeitas este domingo ao fim do dia, as outras será o futuro a responder.

Grécia: “As coisas começam a mudar num sítio pequeno e depois… cabummmm!Espalham-se pelo mundo”

Georgios tem espetado no casaco, no lado do coração, um cartão que o identifica como sendo um dos representantes do Syriza na Escola Básica de Daphni, no centro da Grécia. Os vários delegados dos partidos que concorrem às eleições fiscalizam o andamento da votação. Alguns, poucos, estão dentro das salas de aula transformadas em assembleias de voto. Outros permanecem na varanda, que tem vista privilegiada para o pátio, onde neste domingo não há miúdos a jogar basquetebol ou simplesmente a brincar.

Os delegados partidários fumam, conversam e olham com estranheza para as centenas de jornalistas estrangeiros que invadiram o centro de Atenas. Mas, apesar de tudo, entendem que a Europa está de olhos postos no que poderá resultar destas eleições legislativas. O resultado marcará o início de um novo ciclo político ou de uma enorme desilusão para aqueles que confiaram na “esquerda dura” representada pelo Syriza.

Georgios, quase com 60 anos, aproveita para desenferrujar um inglês básico. Sorri muito enquanto se mostra esperançado numa mudança de rumo, que traga uma nova forma de lidar com os problemas.

E solta a confissão: “Os gregos têm pouca paciência e querem mudanças no dia seguinte, mas isso não será possível”. Com o cartão do partido ao peito, admite que o Syriza “vai caminhar sobre gelo muito fino” e o desastre espreita.

O mesmo Georgios afirma que o partido, que foi uma coligação até 2013, está unido e a cúpula dirigente consegue controlar a mensagem. Uma mensagem e uma orientação política mais moderada do que no passado.

Esperança na mudança
São 10h30 e os sinos fazem-se ouvir em Atenas. Estão a terminar as missas “e agora virá mais gente”, afiança outra delegada do Syriza. Suspira quando fala em Lisboa, no Tejo e no Fado.

Para votar, chega Anton, de 50 anos, sai em passo apressado da Escola Básica de Daphni. Encaminha-se para as escadas. As assembleias de voto estão instaladas nas salas do primeiro andar. No piso térreo estão seis polícias.
 


Anton acredita que estas eleições vão mudar alguma coisa. O quê? “Isso depende de muitos factores”, reconhece ao mesmo tempo que diz que as mudanças só terão um sentido: o da melhoria.

É esta “esperança” e a saturação perante soluções políticas que os gregos entendem falhadas, que motivam mais de 30% dos eleitores a votar Syriza (segundo as sondagens).

Os gregos estão convencidos que a mudança na Europa da austeridade pode começar aqui. Georgios acrescenta, no seu inglês rudimentar, que por vezes “as coisas começam num sítio pequeno e depois… cabummmm! Espalham-se pelo Mundo”.

Domingo desperta devagar
Enquanto conversa, Georgios nem dá pelas pessoas que vão entrando na assembleia de voto. “O importante é mais logo, na hora de contar”, acrescenta. Vai ser preciso abrir as urnas feitas em acrílico transparente e retirar o voto do envelope branco. No canto do remetente, figura um carimbo que atesta o carácter oficial das eleições.
 
Cada eleitor leva para a cabine de voto um molho de papéis. Nalguns casos mais de 20, noutros menos. Um deles está em branco, os outros apresentam o nome de cada um dos partidos e dos deputados que concorrem naquele círculo. Alguns papéis só têm um ou dois nomes dos candidatos a deputados, outros dezenas.

O eleitor escolhe quatro da lista do partido que prefere, sendo que oficialmente, concorrem 22 partidos.

Georgios acredita que durante a tarde “mais pessoas vão votar”, com um sorriso que indicia que ao domingo de manhã, quem não vai à missa, dorme até tarde.