Emissão Renascença | Ouvir Online

PS diz que Passos prepara aumento de impostos. BE garante que precariedade aumenta

27 nov, 2014

Primeiro-ministro deu entrevista à RTP. Oposição deixa críticas.

O deputado socialista Vieira da Silva afirma que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, admitiu na entrevista à RTP aumentar impostos e acusou-o de "encomendar conclusões" para a comissão de inquérito ao BES.

"Se, como tudo indica e todos os observadores e indicadores internacionais indicam, vier a falhar a meta do défice para 2015, o primeiro-ministro anunciou que está disponível para aumentar os impostos", salientou, por outro lado, Vieira da Silva.

Reagindo à entrevista do primeiro-ministro, em declarações aos jornalistas, no Parlamento, o deputado socialista acusou também Passos Coelho de estar a "encomendar as conclusões da comissão de inquérito" ao BES.

Sobre um eventual compromisso com os socialistas, referido pelo primeiro-ministro, Vieira da Silva disse que Passos "está um pouco atrasado relativamente à história". "O senhor primeiro-ministro quando decidiu cortar salários e pensões não fez nenhum apelo ao PS. Quando decidiu que poderia haver um enorme aumento de impostos também o fez sozinho, e na fase final da legislatura, quando se aproximam eleições, pretende que o PS dê o aval às políticas seguidas ao longo destes três anos", declarou.

Para o PS, Passos "pouco ou nada disse acerca de questões fundamentais" e "demonstrou que conhece mal a situação do emprego e desemprego".

"Se tudo correr bem, no final de 2015, o emprego estará ao nível de 1995", afirmou, acusando o chefe de Governo de não ter mostrado o caminho para ultrapassar esta situação, considerando a política de emprego um "fracasso", que tem "uma imagem nos cerca de 400 mil portugueses que tiveram de emigrar".

De acordo com Vieira da Silva, a entrevista serviu também para confirmar "que este é um Governo que se demite de agir em questões fundamentais da economia e da sociedade portuguesa".

"Face à crise de uma das maiores empresas portuguesas, o Governo nada tem a dizer. Face à crise de um dos maiores grupos financeiros portuguesas e das empresas deles associadas, o primeiro-ministro diz que é um problema do sector privado", criticou.

Passos passou ao lado dos "reais problemas"
O PCP defende que a entrevista do primeiro-ministro à RTP passou "ao lado" dos "reais problemas do país", criticando a forma como Passos Coelho se referiu ao emprego.

"Acabámos de assistir a uma entrevista do primeiro-ministro que passou completamente ao lado daqueles que são os reais problemas do país e daquelas que são as preocupações dos portugueses", afirmou o deputado do PCP António Filipe.

Falando aos jornalistas, no Parlamento, o deputado comunista afirmou que, na entrevista, "não houve uma palavra sobre a situação de desagregação em que se encontra o Governo, não houve uma palavra para reconhecer que este Orçamento do Estado, na continuação dos anteriores aprovados por este Governo, vem impor mais sacrifícios aos portugueses". Para o PCP, Pedro Passos Coelho falou de um "país irreal, que não é o país verdadeiro".

Sobre o desemprego, o deputado comunista acusou o primeiro-ministro de omitir "números dramáticos" da emigração, em particular de quadros jovens qualificados, que coexiste com uma "ocultação escandalosa dos números do desemprego através de acções de formação de duvidosa utilidade".

Relativamente à posição expressa pelo chefe de Governo de não intervenção na PT, António Filipe qualificou-a de "inaceitável" e sublinhou que "o Estado tem responsabilidades que não pode alienar em relação às grandes empresas estratégicas".

Precariedade "tem aumentado muito"
Já o coordenador do Bloco de Esquerda João Semedo desmentiu as declarações de Passos Coelho de que a precariedade está a baixar em Portugal, considerando que "pelo contrário, tem aumentado muito".

Segundo João Semedo, que comentava a entrevista do primeiro-ministro à RTP, a afirmação de que a precariedade está a baixar em Portugal “é completamente falsa, pelo contrário, nos últimos três anos aumentou, e muito, e adquiriu novas características".

"Hoje trabalha-se para o Estado sem receber salário e há 56 mil portugueses nessa situação", disse.

A respeito dos casos de justiça que têm sido conhecidos nas últimas semanas, João Semedo contestou a tese defendida pelo primeiro-ministro na entrevista: "Pedro Passos Coelho defendeu que é no Estado, nas empresas públicas, o espaço privilegiado da corrupção, ora a realidade prova precisamente o contrário, os escândalos bancários, seja o BPN, o BPP e finalmente o Banco Espírito Santo, são todos bancos privados". Semedo concretiza dizendo que não conhece "nenhum caso de fraude, burla ou corrupção envolvendo a Caixa Geral de Depósitos".

O dirigente do BE criticou ainda o facto de Passos Coelho não ter tido uma palavra para os vistos `gold`, "da responsabilidade deste Governo".

Passos deu "entrevista serena"
Por sua vez, o porta-voz do CDS-PP afirma que o primeiro-ministro deu à RTP uma "entrevista serena", considerando que Passos Coelho reconheceu que "a carga fiscal é muito elevada" e que "o único caminho possível é conter a despesa".

O deputado centrista, Filipe Lobo D`Ávila, sublinhou o que disse ter sido o "reconhecimento de que a carga fiscal é muito elevada e de que o único caminho possível é conter a despesa para devolver rendimentos aos portugueses".

"Este Orçamento do Estado apresenta um conjunto de soluções que permitem, pela primeira vez em muitos anos, a devolução desse rendimento", afirmou.

Em declarações aos jornalistas no Parlamento, Lobo D`Ávila sublinhou que, numa "entrevista serena", Passos Coelho, apontou "um caminho de futuro", indo ao encontro da "necessidade de esperança, esperança num país que gera emprego, que consegue atrair investimento, que quer voltar-se para o futuro sem repetir os erros do passado", que o CDS tem defendido.

O porta-voz centrista considerou também que o primeiro-ministro fez uma "defesa firme da separação de poderes", quando questionado sobre matérias judiciais, nomeadamente a detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates.