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Quer trabalhar no Spotify? Isto é o que eles procuram

16 set, 2014 • João Carlos Malta

A Renascença falou com um português que foi responsável durante alguns anos do recrutamento na empresa sueca.

Quer trabalhar no Spotify? Isto é o que eles procuram
Ricardo Santos foi o primeiro português a chegar à Spotify e passou por vários departamentos na empresa. O passado ligado a “start-ups” deu-lhe essa polivalência. Sempre teve de dar uma mão aqui, outra ali.

“Comecei quando a empresa era ainda embrionária e se tiveres esse espírito acabas por fazer um pouco de tudo”, diz.

Durante algum tempo foi no recrutamento que colocou toda a atenção. Fazia os testes técnicos. Especialmente na época em que foi um dos responsáveis pela implementação do escritório em Nova Iorque. 

O que procura a empresa? De imediato, Ricardo responde: "O talento". Prontamente emenda: "Mas mais do que isso, paixão pelo que se faz. Ou seja, alguém que não encara o trabalho como trabalho mas como algo de que se gosta".

Defina paixão, s.f.f.
Talento e paixão são valores onde cabe muita coisa. Mas como é que numa entrevista se percepciona algo tão etéreo como a paixão? Ricardo recua quatro anos e fala da sua experiência pessoal.

"Na primeira entrevista, uma das coisas que falámos bastante foi de uma tecnologia que a Spotify usa. Eu preferia a tecnologia B e defendi-a", diz.

Mas há outro descodificador para perceber quem está ou não enamorado pelo mundo digital. "Perguntamos qual o livro [sobre tecnologia] preferido, por exemplo. Se a pessoa não tiver é razão para pensar que não é realmente apaixonada pelo tema e tem dele um conhecimento superficial", defende.

Não é uma "ciência exacta"
Antes de chegar a uma entrevista, há um montão de currículos que se amontoam na mesa dos recursos humanos de uma multinacional. O que leva a pegar num e deitar fora outro? Uma pista: "O que tento avaliar é se as pessoas já tiveram experiências em 'start-ups'", explica. Se o candidato não lançou ainda nenhuma empresa, há uma segunda oportunidade. "Às vezes não têm, mas têm projectos pessoais".

"Estes são bons indicadores de que vale a pena falar com a pessoa", sustenta Ricardo Santos.

Ainda, assim, o engenheiro português assume: "O recrutamento não e uma ciência exacta. Já aprovei pessoas que saíram boas, como eventualmente já seleccionei pessoas que não estavam preparadas".

Uma receita que não serve para todos
Momento agora para pedir os conselhos da praxe. O que aconselha a quem queira ir para o Spotify? A pergunta é cliché e o português de 27 anos, que agora é um dos que decide onde este serviço deve encontrar novos palcos no mundo, identifica-o automaticamente.

Diz que vai dar uma resposta elaborada. Mas deixa uma ressalva: é a experiência dele, valeu para ele. Pode não valer para outros.

"O que aprendi até agora é que o conselho que se pode dar é que continuem sempre a tentar", diz. Serão só palavras típicas de um livro de auto-ajuda. No caso de Ricardo, não.

Recorda um momento decisivo. Depois da passagem por Barcelona, esteve em Helsínquia. Já tinha ouvido falar da Spotify e queria lá estar. Fez entrevistas por telefone. Sentiu que o processo se estava a arrastar. Mais do que a vontade dele podia esperar.

O que fazer? "Liguei para o meu recrutador e perguntei-lhe se me entrevistava pessoalmente caso estivesse no dia a seguir em Estocolmo. Sem compromissos de contrato, disse-lhe", lembra.

Apanhou o avião e a viagem foi só de ida.