Redes sociais dos candidatos às autárquicas revelam “iliteracia mediática”

20 set, 2013 • André Rodrigues

Professor de jornalismo da Universidade do Minho considera que presença dos candidatos nas redes sociais é pobre e superficial.

Basta aceder a um motor de busca e escrever o nome do candidato pretendido. De imediato, o resultado da pesquisa permite aceder à página de campanha no Facebook. Entre fotografias às dezenas, vídeos praticamente não editados, escapa uma ou outra promessa eleitoral no "sprint" pelo maior número de votos possível.

Com orçamentos mais reduzidos para campanhas mais festivas nas ruas, esta poderia ser a solução aproximar eleitos e eleitores. Mas será eficaz? 

O docente do curso de Comunicação Social na Universidade do Minho Luís Santos considera que a fórmula teria tudo para funcionar, porque “do ponto de vista da potencialidade, está lá tudo para que os candidatos pudessem, não só apresentar as suas propostas políticas mas também debater com os seus eleitores mais próximos.” 

O problema é que a maioria das candidaturas não sabe tirar partido das potencialidades das redes sociais. Parafraseando Eça de Queirós, Luís Santos diz que “a civilização custa-nos caro porque é sempre importada… E isso nota-se muito nesta adopção - nalguns casos - feita ‘a martelo’ das redes sociais”. 

"A web é absolutamente imperdoável na explosão/reacção a tudo aquilo que não se insere no seu espírito”, sublinha o especialista.

Talvez o melhor exemplo disso sejam os “Tesourinhos das Autárquicas”, a página que todos os dias actualiza no Facebook os "slogans" mais arrojados e os cartazes mais divertidos das campanhas que se fazem por todo o país.

Mas para Luís Santos, o que isso revela é “uma enorme iliteracia mediática por parte de quem anda na política ou de quem apoia quem anda na política". "Há aquela presunção de que qualquer um tira uma fotografia, qualquer um consegue arranjar uma frase para um cartaz eleitoral e para colocar conteúdos no Facebook, até o primo que tem um computador lá em casa consegue fazer”.

Ou seja, os esforços de modernização da actividade política esbarram muitas vezes na superficialidade, como uma espécie de “verniz que estala muito facilmente… Depois descobrimos que por debaixo dessa capa não há ideias, não há debate, há muito pouca participação a não ser aquela que é habitual em campanha: as arruadas, os comícios e os concertos dos artistas que vão animar os arraiais políticos”, conclui o professor.

Ficam a faltar as ideias dos políticos. E essas não se encontram na Internet.