Emissão Renascença | Ouvir Online

Presidente do Hospital S. João defende fim da ADSE

03 mai, 2012 • Dora Pires

António Ferreira diz que o sistema público de protecção na doença destina-se a financiar as empresas privadas de saúde.

O presidente do Hospital de S. João, no Porto, um dos maiores do país, defende a extinção pura e simples da ADSE, o sistema público de protecção na doença.

António Ferreira, que falava esta quinta-feira no encontro da Pastoral da Saúde, em Fátima, lembra o que estava no memorando da “troika” e o que não está a acontecer no terreno.

“A ADSE até parece imune à crise, porque se destina a financiar os privados e é uma forma de financiamento público do sector privado. A ‘troika’ decidiu a sua extinção na celebração do acordo com o Estado português, o Governo continua sem a extinguir e não vai extingui-la, porque quem manda é a endogamia e os interesses privados. Impõe-se a sua extinção imediata”, afirma o administrador.

O presidente do conselho de administração do S. João deu números para uma estimativa da despesa real da ADSE, que rondará “um valor muito acima de mil milhões de euros”.

“Este dinheiro destina-se, na grande maioria, ao financiamento público das empresas privadas de saúde. Só entre 2008 e 2009, a despesa da ADSE em convenções com as instituições privadas aumentou mais de 21%”, argumenta António Ferreira.

SNS sofre reformas ou morre
Nomeado pelo Governo de José Sócrates, reconduzido pelo de Passos Coelho, o administrador do Hospital de S. João diz que chegou a hora: ou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) reforma-se ou morre. A reforma necessária é muito, muito profunda, a começar pela gestão dos recursos humanos. António Ferreira tem em "casa" um exemplo: uma funcionária do S. João que trabalhou sete meses nos últimos sete anos, com sucessivos atestados de doença.
 
António Ferreira propõe que apenas fiquem no sector público os que lá queiram estar por inteiro, sem "perninhas" no privado.
 
O Hospital de S. João é um dos 19 na região Norte que já avançaram para a compra conjunta de medicamentos, mas António Ferreira quer mais, porque as regras da administração pública, diz, nem permitem poupar nem evitam a corrupção.

"Se a lei da contratação pública visa combater a corrupção ou aumentar a eficiência da gestão, então ela é um falhanço absoluto, porque nem evita uma nem garante outra e está entregue a uma instituição que tem uma espantosa imagem pública e que é absolutamente incompetente e que se chama Tribunal de Contas", acusa.

No essencial, António Ferreira quer que os hospitais públicos tenham condições de concorrer em pé de igualdade com os privados e, então, o Estado que compre os serviços a quem fizer melhor e mais barato.

São algumas das decisões duras a tomar, mas a alternativa é pior. O administrador do S. João diz que como está, já hoje, o SNS é insustentável.