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Fora da Caixa

Santana Lopes pergunta: “E os directores de centros de sondagens, demitem-se?”

09 mai, 2015 • José Pedro Frazão

António Vitorino considera que as sondagens das eleições inglesas estão “demasiado erradas”.  

O desvio das sondagens face aos resultados das eleições britânicas merece a crítica de António Vitorino e Pedro Santana Lopes no programa Fora da Caixa, da Renascença.

Cada vez mais crítico do papel dos estudos de opinião nas campanhas eleitorais, Pedro Santana Lopes não poupa críticas à discrepância entre estes e os resultados verificados nas urnas no Reino Unido.

“Virá sempre a explicação de que não se enganaram, que houve um 'vento' de última hora, há sempre uma razão para não se enganarem”, ironiza o antigo primeiro-ministro, que lança uma pergunta. “Até que ponto é que elas contribuem para um resultado eleitoral? Isto às tantas transforma-se numa perversão. Até que ponto o modo como assustaram os eleitores do Reino Unido com a ingovernabilidade deu a vitória a Cameron? Se calhar o sentimento mais autêntico e primeiro dos eleitores não era esse...”

O antigo primeiro-ministro já havia questionado as falhas das sondagens em eleições recentes como as legislativas em Israel. “Esta questão dos estudos de opinião deve ser pensada, ponderada, reflectida. Se houver sanções… As pessoas podem mudar de opinião, mas isto é muito estranho. Se há uma derrota significativa de vários líderes, eu pergunto: e os directores de empresas de sondagens demitem-se todos? É que são sempre os políticos a pagar a fava!”

António Vitorino responde com o reconhecimento das falhas das sondagens no Reino Unido. “O Pedro [Santana Lopes] devia estar contente, porque quanto mais as sondagens falharem, menos credibilidade terão, menos impacto e influência política terão!”, ironiza o jurista e antigo ministro socialista.

“O advogado do diabo das empresas de sondagens diria que faz o retrato do dia da sondagem. Do ponto de vista estatístico, há provas é que, em média, 10% dos eleitores só se decidem no dia das eleições, em cima da urna. Apesar de tudo, este resultado é demasiado errado. As sondagens estavam demasiado erradas para poderem ter o benefício desta chamada 'decisão de última hora' que não é previsível em nenhuma sondagem”, considera António Vitorino.

O antigo comissário europeu diz que há factores que fragilizam as sondagens. “Também desconfio muito das sondagens. Não pela sua honestidade ou credibilidade, mas porque há factores que são muito difíceis de medir. O primeiro deles é a abstenção, questão muito importante na distribuição do resultado global. O segundo é quando o sistema partidário e os seus protagonistas mudam. Normalmente estas empresas funcionam de uma maneira muito engraçada. Fazem um trabalho de campo com uma amostragem e depois aplicam um modelo. O problema está no modelo, que é prisioneiro de comportamentos passados. Quando os comportamentos eleitorais mudam radicalmente, esses modelos já não são válidos. Mas as empresas continuam a aplicá-los”, conclui o comentador socialista.