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Quem ganhou e quem perdeu nas eleições no Reino Unido?

08 mai, 2015 • Matilde Torres Pereira

Vitória dos Conservadores e derrota pesada dos Trabalhistas surpreendem ao contrariar todas as sondagens que davam como certo um resultado renhido. Relação com Bruxelas e com a Escócia ganham peso.

Quem ganhou e quem perdeu nas eleições no Reino Unido?
O primeiro-ministro britânico David Cameron conseguiu uma vitória retumbante para os Conservadores nas eleições legislativas no Reino Unido, contrariando as projecções que davam como certo o resultado final mais renhido das últimas décadas.

Depois do encontro com a Rainha Isabel II para aceitar o mandato para formar governo, o primeiro-ministro reeleito, com 36,9% dos votos (331 deputados), fez um discurso de vitória à porta do nº 10, onde declarou: "Acredito que estamos à beira de algo especial no nosso país. Como governo maioritário, vamos poder cumprir todo o nosso programa".

Entre o recitar das promessas eleitorais, como a melhoria nos cuidados infantis, a criação de emprego e a redução nos impostos, Cameron reafirmou a promessa de convocar um referendo à permanência na Europa.

O resultado muito significativo para o Partido Nacional Escocês (4,7%, 56 lugares no Parlamento) põe a relação com a Escócia no topo da agenda de Cameron.

Cameron mantém assim o seu lugar no nº 10 de Downing Street durante mais cinco anos, deixando para trás um Partido Trabalhista derrotado (30,4%, 232 deputados), e diminuído, e três baixas de peso: Ed Miliband, o líder dos trabalhistas, demite-se; Nick Clegg, líder dos Liberais Democratas (7,9%, oito deputados) e vice-primeiro-ministro, também sai; e Nigel Farage, líder do UKIP (12,6%, um lugar apenas), abandona o partido eurocéptico, depois de nem sequer ter conseguido ser eleito deputado.

Os Conservadores ultrapassaram os 325 lugares necessários para uma maioria absoluta, permitindo-lhes governar sozinhos pela primeira vez desde 1992.

A margem da vitória foi surpreendente até para Cameron, que disse que nunca acreditou chegar ao fim da campanha no lugar em que está agora. O governante dispensa assim dos Liberais Democratas, com quem tem governado desde 2010.

A vitória do nacionalismo escocês e o regresso da questão europeia
Apesar do resultado surpreendentemente decisivo, existe alguma incerteza sobre se a Grã-Bretanha vai permanecer na União Europeia e mesmo sobre se vai conseguir manter-se unida como país.

Os nacionalistas escoceses ultrapassaram largamente os trabalhistas, o que significa que a Escócia, que votou no ano passado num referendo para permanecer no Reino Unido, vai enviar apenas três representantes dos principais partidos para o parlamento, correndo o risco de ficar à margem do governo. Este resultado pode reavivar o debate da independência da Escócia.

David Cameron enviou uma mensagem conciliatória à Escócia na noite da vitória, dizendo que quer recuperar a união da nação. Prometeu descentralizar o poder e dar mais autonomia à Escócia.

A vitória de Cameron significa ainda que o Reino Unido vai ter um referendo, prometido pelo primeiro-ministro, à permanência na União Europeia. O governante diz que quer ficar, mas apenas se conseguir renegociar a relação de Londres com Bruxelas.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reagiu à vitória congratulando Cameron e afirmando que a Comissão irá analisar qualquer proposta britânica de uma forma “educada, amigável e objectiva”.

Derrota para a oposição… e para as sondagens
Os Liberais Democratas, partido de centro-esquerda, foram reduzidos a oito lugares depois de ganhar 57 há cinco anos. O líder Nick Clegg, que se demitiu, afirmou: “Os resultados foram claramente esmagadores e pouco simpáticos, mais do que eu receei.”

Ed Miliband, líder dos trabalhistas, nunca foi visto como um candidato com uma ligação forte ao eleitorado, mas fez uma campanha melhor de que o esperado. Na quinta-feira, disse: "Esta foi claramente uma noite muito difícil e desapontante para o Partido Trabalhista". E no Twitter acrescentou: "A responsabilidade por este resultado é inteiramente minha".

O UKIP acumulou uma série de segundos lugares em todo o país, mas não conseguiu angariar um peso significativo do parlamento. No Reino Unido, os candidatos têm de ficar em primeiro lugar nos seus distritos para conseguir chegar ao parlamento.

Quem também sai a perder nestas eleições é a indústria de sondagens, que irá certamente ser inquirida acerca das projecções antes das urnas, que falharam largamente e previam um resultado renhido entre os Conservadores e Trabalhistas.

[Notícia actualizada às 18h54 com os resultados finais]