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Contabilista diz que patrão do BES sabia das irregularidades

13 jun, 2014

Auditoria do Banco de Portugal detectou “irregularidades nas contas” da Espírito Santo Internacional, confirmadas por uma auditoria interna. Luxemburgo também abriu inquérito a três empresas do Grupo Espírito Santo.

Contabilista diz que patrão do BES sabia das irregularidades
O contabilista do Grupo Espírito Santo, Francisco Machado da Cruz, revela que o presidente do BES “sabia que faltava dinheiro no passivo” da Espírito Santo Internacional (ESI) e que era Ricardo Salgado quem dava luz verde a todas as contas.

A notícia é avançada esta sexta-feira pelo semanário “Expresso”, que teve acesso ao relatório da auditoria interna e aos documentos entregues por Francisco Machado da Cruz ao Banco de Portugal.

Neles, o contabilista afirma que, desde 2008, Ricardo Salgado sabia que as contas não reflectiam a verdadeira situação financeira da ESI, mas que era preciso salvar o BES. O banco enfrentava uma crise financeira e, com a concordância do líder do grupo, com quem se reunia directamente, acabou por retirar 180 milhões de euros do passivo da ESI classificados como prejuízo. Nega, contudo, que tenha feito qualquer desvio de dinheiro.

Francisco Machado da Cruz sublinha ainda que as contas eram aprovadas todos os anos por Ricardo Salgado e pelo superior directo do contabilista, José Castella, antes de serem apresentadas aos administradores da ESI.

As declarações de Machado da Cruz contradizem as declarações do presidente do Banco Espírito Santo que, em entrevista ao “Jornal de Negócios” há poucas semanas, afirmou que o responsável pela contabilidade da empresa (que designou como “comissaire aux comptes”) assumiu os erros cometidos, depois de ter perdido "o pé no meio desta crise", e que pediu a demissão.

“Nunca ninguém nos disse que tínhamos de consolidar as contas”, garantiu.

Em Setembro de 2013, o Banco de Portugal pediu ao Grupo Espírito Santo que mostrasse todos os seus passivos. Foi detectado um erro de 1,3 mil milhões de euros, que levou o regulador a pedir, em Janeiro deste ano, o detalhe completo da dívida e uma justificação para o valor dos activos. Foi nesta altura que Francisco Machado da Cruz pediu a demissão, tendo Ricardo Salgado pedido que abandonasse o cargo apenas depois de concluída auditoria.

O líder do grupo terá ainda prometido uma compensação financeira ao seu “comissaire aux comptes”.

Em Maio, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) revelou que a auditoria externa levada a cabo na ESI “apurou irregularidades nas suas contas e concluiu que a sociedade apresenta uma situação financeira grave”.

Já este mês, a Procuradoria do Luxemburgo, onde está sediada a “holding” Espírito Santo Internacional, abriu um inquérito a três empresas do Grupo Espírito Santo, na sequência das irregularidades detectadas.

Na mira das autoridades estão a Espírito Santo Control S.A., Espírito Santo International S.A. e Espírito Santo Financial Group S.A., todas sediadas no grão-ducado.