29 set, 2017
Na passada quarta-feira, o secretário de Estado da Saúde, Miguel Delgado, disse que “é um tormento governar nestas circunstâncias”. Quais? O secretário de Estado explicou: “Estamos a viver um fenómeno que tem aspectos muito positivos. Os portugueses perceberam, ao contrário do que lhes tinha sido vendido antes, que afinal o país podia crescer repondo vencimentos. (…) Esta expectativa criou uma perversão, que é a de que tudo se pode conquistar rapidamente (…), que essa reposição era infinita”.
A perversão não foi só essa. Durante meses e meses o Governo, e em particular o primeiro ministro, insistiram repetidamente em que se tinha “virado a página da austeridade”. O que, além de não ser verdade (tivemos outro tipo de austeridade, cortes nas despesas públicas de investimento e cativações na despesa corrente), transmitiu um sinal errado aos portugueses. Alimentou a ideia de que, acabada a austeridade, poderíamos consumir e gastar à vontade.
A perversão foi criada pelo executivo de que Miguel Delgado faz parte e manifesta-se com particular força na área da Saúde. Mas não só: em Outubro teremos 14 dias de greve em Portugal, quase metade do mês…
A propaganda é legítima, mas deve ser responsável, nomeadamente quanto às expectativas que cria. Tem havido sinais positivos na economia e nas finanças do país e o Governo procura tirar partido político dessa melhoria, o que é normal – embora algo injusto para o executivo anterior, que enfrentou uma situação dramática, criada por um governo do PS. Mas um político experimentado como António Costa não podia ignorar a perversão que promoveu e que agora atormenta os governantes.