Cáritas portuguesa alerta para descoordenação no acolhimento de refugiados ucranianos
10-03-2022 - 16:37
 • Ângela Roque

Presidente da Cáritas Portuguesa diz que falta “orientação” no acolhimento que Portugal está a dar aos cidadãos ucranianos que fogem da guerra. Em entrevista à Renascença, Rita Valadas confessa-se “preocupada” com a atual descoordenação de meios, diz que quem chega tem de ser devidamente encaminhado, e que deve ser o Governo a liderar esse processo.

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A presidente da Cáritas portuguesa, Rita Valadas, critica a falta de orientação e coordenação no acolhimento aos cidadãos ucranianos em Portugal.

“Estou um bocadinho preocupada com essa situação”, admite Rita Valadas à Renascença.

A instituição católica tem a decorrer, até 30 de março, uma campanha específica de ajuda à Ucrânia, destinada a apoiar as Cáritas daquele país e dos países vizinhos, que estão a receber os refugiados da guerra, mas já começou a organizar-se para participar no acolhimento em Portugal.

A Cáritas já começou a identificar quer os postos de trabalho, quer os locais da sua rede “que podem vir a receber pessoas nesta situação, ou de emergência ou de inserção”.

Mas, tem de se ver “qual é a perspetiva que as pessoas trazem, se não querem voltar - ou, pelo menos, voltar tão cedo, e só querem cá estar na esperança de que a guerra dure pouco -, ou querem mesmo integrar-se, e temos um conjunto de coisas que têm a ver com escolas, emprego”, explica à Renascença.

Rita Valadas diz que “há muito movimento, não de instituições, mas de casas de pessoas que estão a ser disponibilizadas”, mas só boa vontade não chega. “O Estado terá de nos dizer como é que essas situações são enquadradas, para não corrermos riscos e tudo ser claro e identificado”.

“Não sinto que haja coordenação. Há um coração imenso, mas está cada pessoa a trabalhar para seu lado, e neste momento acho que precisamos de fazer união e síntese”, sublinha esta responsável, para quem é urgente clarificar a situação.

E prossegue a crítica: “o Estado já disse que vai facilitar a legalização, ouvi a senhora ministra dizer que as pessoas irão ser contactadas, mas quem está a trazer e quem recebe não sabe ainda como é que isto vai ser. Como é que é a legalização, quanto tempo demora? Quem vem sozinho não sabe para onde vai. As pessoas podem chegar e não ser acolhidas, porque ninguém sabe que eles chegaram. Os que têm vindo têm famílias e situações de referência, o que facilita, mas os outros não sabemos qual é o caminho. Era bom que houvesse uma orientação geral que dissesse 'isto vai ser assim, quem precisa de alojamento vai para ali', alguém que responda”.

Para Rita Valadas, a iniciativa deve “partir do Governo, que sabe exatamente com quem conta”.

Diz que a Cáritas está “disponível para o que for necessário, mas era bom que estivéssemos todos sentados à mesma mesa, não fazer as pessoas correr em incerteza. Porque se as pessoas chegam na situação em que vêm e sentem que não há uma resposta para lhes dar, mesmo que tenha um teto, o primeiro dia, a primeira semana se calhar corre bem, depois começam a sentir-se inseguras. E se nós temos meios postos à disposição, então que isso seja feito claramente e que as pessoas saibam onde acorrer”.

Nesta entrevista à Renascença, Rita Valadas antecipa a Semana Nacional da Cáritas, que arranca no próximo domingo, e durante a qual vai ser retomado o peditório público de rua.

O ano passado não se realizou, devido à pandemia, mas é uma das principais fontes de financiamento da instituição. Os donativos recolhidos destinam-se a financiar a atividade normal da rede Cáritas.