Medidas de combate à Covid-19 adotadas em Portugal “não foram eficientes", diz autoridade de saude europeia
24-09-2020 - 11:07
 • Joana Gonçalves

Portugal apresenta uma “tendência preocupante” de evolução da pandemia e um "risco muito alto" para grupos mais vulneráveis, avança o último relatório de risco do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. O número de hospitalizações e casos críticos "aumentará, inevitavelmente".

Portugal apresenta um risco moderado para a população geral devido à Covid-19 e um risco muito alto para os grupos mais vulneráveis.

De acordo o mais recente relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), o aumento sustentado dos níveis de transmissão observados indicam que “as intervenções não farmacêuticas em vigor não alcançaram o efeito pretendido, seja porque a adesão às medidas não é ideal ou porque as medidas não são suficientes para reduzir ou controlar a exposição”.

Para além de Portugal, também Áustria, Dinamarca, Estónia, França, Irlanda, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Eslováquia, Eslovénia e Reino Unido estão entre os países europeus onde o aumento da taxa de notificação tem origem no elevado volume de testes e a transmissão ocorre principalmente entre os mais jovens, com reduzida proporção de casos críticos e baixa taxa de notificação de óbitos devido à doença.

"No entanto, o risco de COVID-19 é muito alto para indivíduos vulneráveis, com base numa probabilidade muito alta de infecção e impacto da doença nestes grupos", lê-se no mesmo documento.

O relatório adianta, ainda, que o número de doentes hospitalizados e casos graves “aumentará, inevitavelmente, uma vez que alguns pacientes com menos de 65 anos de idade terão de recorrer ao internamento em enfermaria e unidades de cuidados intensivos, embora em proporções menores que os pacientes mais velhos, com consequente pressão sobre o serviço nacional de saúde”.

De acordo com a avaliação do ECDC, os Estados que apresentam risco mais elevado são a Bulgária, Croácia, República Checa, Hungria, Malta, Roménia e Espanha.

Menor letalidade

Os dados de vigilância relatados ao ECDC revelam que a taxa de casos fatais tem diminuído em vários países europeus, em comparação com os picos de março e abril de 2020. O recente aumento no número de casos nem sempre foi acompanhado por um aumento correspondente no número de óbitos.

“Isto pode ser atribuído a uma maior capacidade de identificação de casos, devido ao aumento de testes, à maior incidência entre os mais jovens e à inclusão de um maior número de casos assintomáticos, devido a mudanças nas estratégias de testagem", adianta o relatório.

Reduções significativas na letalidade também foram observadas entre pacientes em grupos de idade mais avançada. Esta redução pode ter origem na melhorias da gestão clínica de casos graves, incluindo a introdução de tratamentos como esteróides e remdesivir, "além de melhorias no controlo da síndrome de dificuldade respiratória aguda (SDRA), com otimização do uso de oxigénio nasal de alto fluxo e ventilação não invasiva".

Evolução do número de mortes diárias por Covid-19 em Portugal

Prioridades no combate à segunda vaga

Numa altura em que Portugal se prepara para uma segunda onda mais severa que a registada em março e abril, o ECDC avança dez pontos prioritário no combate ao novo coronavírus.

1.Controlar a transmissão entre crianças mais velhas e adultos com menos de 50 anos de idade.

2. Proteger indivíduos clinicamente vulneráveis.

3. Proteger os profissionais de saúde, especialmente aqueles envolvidos na prestação de cuidados primários.

4. Aumento de testagem na comunidade.

5. Rápida identificação de contactos, com testes independentemente dos sintomas e quarentena para quem apresenta contactos de alto risco. Teste de contatos de exposição de baixo risco, independentemente dos sintomas, para permitir o início identificação de casos secundários.

6. Recomendação de quarentena de quatorze dias para pessoas que tiveram contato com casos confirmados de SARS-CoV-2. Pode ser reduzida para 10 dias após a exposição, se um teste de PCR ao décimo dia for negativo.

7. Reforço da comunicação e apelo à adoção de comportamentos preventivos.

8. Comunicação de risco reforçada entre os mais jovens. Incentivar este grupo a identificar-se como parte da solução, ativamente envolvidos em estratégias para controlar a pandemia e no esforço de recuperação.

9. Proteger a saúde mental, quer dos doentes Covid-19, quer dos grupos sujeitos a medidas de confinamento e quarentena.

10. Reforço das intervenções não farmacêuticas, como a principal ferramenta de saúde pública para controlar e gerir surtos de SARS-CoV-2. As medidas adotadas devem, contudo, ser orientadas pelos dados epidemiológicos locais, evitando impactos desproporcionais no bem-estar geral da população e no funcionamento da sociedade e da economia.