"Há um grande alarmismo" no apelo à testagem em massa, defende virologista
23-12-2021 - 20:07
 • André Rodrigues

Pedro Simas considera que "não faz sentido estar a sujeitar a sociedade portuguesa a esta pressão, quando o aumento do número de infeções não se traduz num aumento do número de hospitalizações e de mortes”.

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"Há um grande alarmismo" no apelo à testagem em massa da população nesta fase da pandemia de Covid-19, defende o virologista Pedro Simas, investigador do Instituto Molecular da Universidade de Lisboa, em declarações à Renascença.

O Governo determinou a obrigatoriedade de testes Covid-19 para mais atividades e a diminuição do prazo de validade está em cima da mesa.

Numa altura em que aumenta o ritmo de transmissão da variante Ómicron, a Direção-Geral da Saúde (DGS) estuda a possibilidade de reduzir os prazos de validade dos testes PCR de 72 para 48 horas. No caso dos testes de antigénio, o prazo passa de 48 para 24 horas.

E o que dizem os especialistas? Faz ou não faz sentido alterar as regras atualmente em vigor? Segundo o virologista Pedro Simas, um prazo de validade mais reduzido permite diminuir o número diário de infeções.

No entanto, Pedro Simas argumenta que o aumento do número de casos não se traduz numa maior gravidade. Por isso, em Portugal não faz sentido sujeitar a população a um aumento da testagem, defende.

“Quando mais se reduzir o prazo dos testes, está-se a obrigar as pessoas a fazer mais testes e há um maior controlo da disseminação do vírus e baixa o número de infeções. Agora, porque é que há esse objetivo de diminuir significativamente o número de casos por dia? Para mim, não faz sentido estar a sujeitar a sociedade portuguesa a esta pressão, quando o aumento do número de infeções não se traduz num aumento do número de hospitalizações e de mortes”.

“Isso é o que define aquilo que nós chamamos uma endemia: é uma divergência clara entre o número de infeções e de hospitalizações”, sublinha.

Nestas declarações à Renascença, Pedro Simas considera mais importante prosseguir o esforço da vacinação do que sobrecarregar a população com testes. Para este especialista, o apelo à testagem em massa revela alarmismo.

“Se não há capacidade para os testes serem só executados por profissionais de saúde, há um benefício em fazer autotestes. Agora, eu não considero é que em Portugal estejamos numa situação de emergência, porque não considero que o risco seja elevado, de se traduzir num aumento exponencial do número de hospitalizações e de mortes”, reforça.

Pedro Simas argumenta que 86% da população residente em Portugal já tem imunidade ao SARS-CoV-2, é preciso manter a prudência e continuar a apostar na vacinação, mas há alarmismo com a questão dos testes.

“Acho que há um grande alarmismo, chamam-lhe prudência. Sim senhora, temos que ser prudentes. Agora, não sou eu que vou dizer se as pessoas devem fazer autotestes se fizerem uma reunião familiar”, sublinha.

As farmácias venderam mais de 1,3 milhões de autotestes ao SARS-CoV-2 na última semana e, na quarta-feira, bateram um novo recorde realizando mais de 101 mil testes rápidos de antígeno, segundo a presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF).

Em dezembro as farmácias venderam mais de 2,7 milhões de autotestes, sendo que mais de metade foi dispensada na última semana, revelou à Lusa a presidente da ANF, Ema Paulino.

Portugal ultrapassou esta quinta-feira a barreira dos 10 mil novos casos diários de Covid-19 e morreram 17 pessoas, indica o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS). São 10.549 infeções no espaço de 24 horas.

Não havia tantos casos desde 30 de janeiro, quando o país atingiu 12.435 casos. Nesse mesmo dia, morreram 293 pessoas com Covid-19.