Assunção Cristas. “PS trata o Governo como se fosse a sua casa”
19-09-2019 - 08:38
 • Filipe d'Avillez , Miguel Coelho

A líder do CDS-PP defendeu que é preciso acertar contas. Depois de o Governo ter aplicado a carga fiscal máxima, Cristas diz que chegou o momento de devolver o dinheiro aos portugueses e reitera um corte de impostos de 15% para todas as famílias.

Assunção Cristas acusa o PS de ter tratado o Governo como se fosse “a sua casa” e diz que a situação só vai piorar se os socialistas tiverem maioria absoluta.

Em entrevista exclusiva à Renascença, emitida em direto esta quinta-feira de manhã, a líder do CDS alertou para o perigo de os portugueses reforçarem os votos no PS.

“Sem maioria absoluta o PS já parece que Governa o Estado como se fosse a sua casa, muito à vontade, com muitos negócios, com muitos familiares, como se fosse uma coisa sua. Com maioria absoluta o risco é ainda maior, e temos más memórias das maiorias absolutas do PS”, alertou.

A resposta de Cristas surgiu no contexto de uma pergunta sobre o chamado “escândalo das golas antifumo”. A líder centrista diz que o CDS tem dado, no seu programa, prioridade à questão da transparência dos negócios do Estado e o combate à corrupção. Apesar de elogiar o facto de a justiça “estar a funcionar” neste caso, Cristas não deixou de manifestar a sua preocupação por se estar perante a demissão do “responsável máximo da Proteção Civil, numa altura de fogos”.

Falando mais diretamente das suas propostas eleitorais, a deputada e líder do CDS insistiu bastante na descida de impostos. Sem negar que tinha feito parte do Governo de Pedro Passos Coelho, responsável por um “brutal aumento de impostos”, Cristas disse que o atual Governo só piorou a situação.

“Precisamente porque o brutal aumento de impostos foi substituído pela carga fiscal máxima de Mário Centeno. Achamos que numa altura em que se perspetiva equilíbrio das contas e até uma folga no orçamento é altura de devolver às pessoas e às empresas”, disse.

“É uma questão de justiça e é uma medida que permite que as pessoas sintam que vale a pena trabalhar e esforçarem-se porque no final vão conseguir ficar com mais algum dinheiro para si e para as suas famílias.”

Cristas rejeita a ideia de que os portugueses vivam melhor agora do que há quatro anos. Sem negar o valor de medidas como a redução do preço dos passes e de algumas contribuições, aponta para o exemplo de pessoas que vivem fora das grandes cidades e por isso não podem beneficiar dos transportes públicos, sendo afetadas pelo alto preço dos combustíveis.

Na sua opinião chegou o momento de devolver o dinheiro aos portugueses e reitera um corte de impostos de 15% para todas as famílias. Questionada sobre a viabilidade dessa medida no caso de uma eventual crise internacional, para a qual António Costa tem alertado, Cristas virou a questão de volta para o líder do PS.

“O primeiro-ministro veio avisar mas não reviu o seu cenário macroeconómico. Nós trabalhamos com base nisso. Com base nisso a prioridade é rever os impostos, porque queremos libertar a força criadora das pessoas, a capacidade de realizar e sonhar. Se há dúvidas sobre o futuro temos é que acautelar, robustecer e estar mais preparados.”

“O Governo diz que o seu cenário macro é cauteloso. Nós também somos cautelosos e usámos o cenário do Governo”, disse.

Greves, professores e natalidade

Um dos pontos do programa do CDS é alterar a lei da greve, que Cristas considera desadequada a uma democracia funcional. Mas a candidata recusou-se a responder diretamente quando questionada se essa alteração passaria por permitir o despedimento de um trabalhador que faltasse aos serviços mínimos, dizendo apenas que a alteração teria de ser discutida em sede de concertação social.

No mesmo sentido, Assunção Cristas recusa uma solução para a recuperação do tempo de serviço dos professores sem que sejam discutidos outros. “Temos de rever as questões das carreiras dos professores, porque não são sustentáveis. A avaliação dos professores, as aposentações, até porque há a questão que tem a ver com o rejuvenescimento dos próprios professores, e com a necessidade de permitir que alguns possam ir mais cedo para a reforma, dando lugar a outros. Essa é a nossa prioridade e só nesse contexto se pode discutir tudo o resto.”

O CDS também aposta fortemente em medidas de promoção da natalidade, com Cristas a defender a flexibilização do trabalho, incluindo a possibilidade de trabalhar a partir de casa, mas com a garantia de um “direito a estar desligado, para tratar da sua família e da sua vida pessoal”.

“As novas tecnologias podem ser muito benéficas, sobretudo para quem tem filhos pequenos, mas tem de ser regulado e tem de ser uma maneira de ajudar as pessoas a conciliar família e trabalho, e não ao contrário.”

Sondagens negativas

Assunção Cristas não negou que os últimos resultados eleitorais e as sondagens atuais são negativas para o seu partido, mas afirma que tal como o país precisa de ambição o CDS também ambiciona conseguir o melhor resultado possível e apelou ao voto no centro-direita para não permitir um Parlamento demasiado à esquerda.

“Sabemos que em muitos distritos onde tradicionalmente o CDS elege, estamos a disputar votos com a esquerda. Há deputados que ou vêm para o CDS, ou vão para a esquerda.”

Reservou grande parte dos seus ataques para o PAN, um partido que descreveu como sendo “de aparência simpática e de falinhas mansas, mas que esconde uma agenda ideológica muito radical, de esquerda, que quer limitar as nossas liberdades, quer fazer escolhas por nós, e tal como o PCP e o Bloco de Esquerda nos quer retirar liberdades, e isso é que acho muito gravoso”.

A líder do CDS não dá sequer crédito ao PAN na área das matérias ambientais, apontando para o facto de o partido ser contra a construção de barragens.

“A matéria ambiental mais importante para o nosso país é a escassez de água num clima previsivelmente mais quente e mais seco. Quando falamos do clima devemos falar de adaptação às alterações climáticas e não só de combate. Temos de tratar da nossa casa comum, mas temos também um dever de preparar o território e torná-lo mais resiliente.”

Para o CDS isso passa sobretudo por planear “barragens de fins múltiplos, pequenas charcas para termos irrigação eficiente e armazenamento de águas nos edifícios, com canalizações separadas.”

“O PAN é contra as barragens, acha que não faz sentido nenhum. Como é que podemos, quando vamos ter uma precipitação muito mais irregular, dispensar-nos de guardar a água que é vital para o país?”, pergunta.

Na mesma linha, Cristas foi interrogada sobre a iniciativa da Universidade de Coimbra (UC) que quer retirar a carne de vaca das ementas das cantinas sociais.“Vejo de forma muito negativa. Vemos uma parte da sociedade a querer impor a sua agenda radical e as suas escolhas a outra parte. Em primeiro lugar tenho muitas dúvidas de que a carne de vaca estivesse muito presente no menu da UC. Mas a questão não é essa, a questão é saber se podemos simplesmente decretar o que as pessoas podem ou não comer, por razões que além do mais contestamos do ponto de vista da sustentabilidade da nossa economia. É um ataque à produção animal, ao mundo rural, à economia portuguesa e é, antes de mais, um ataque à liberdade das pessoas”.

A entrevista a Assunção Cristas foi a quarta da Renascença a líderes de partidos com assento parlamentar. Na semana passada foram entrevistados Jerónimo de Sousa, Catarina Martins e André Silva. Na sexta-feira será transmitida a entrevista a Rui Rio.

Na quarta-feira passada a Renascença transmitiu também o debate da rádio, que reuniu os líderes dos seis partidos com assento parlamentar.


Reveja a entrevista: