PS a esmagar PSD, o grande tombo do CDS ou como professores e motoristas têm efeitos nas sondagens
30-09-2019 - 06:44
 • Eunice Lourenço

Análise às estimativas de resultados reunidas na “Sondagem das Sondagens” da Renascença.

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Há momentos em que todos os partidos parecem seguir linhas paralelas, mais ou menos longe uns dos outros, outros em que todos mexem. A Sondagem das sondagens permite-nos seguir o tempo político dos últimos dois anos e perceber como o eleitorado reagiu aos diversos momentos e posições de cada partido.

O campeonato da primeira liga nunca conhece uma aproximação digna desse nome. A separação entre PS e PSD é, geralmente nos últimos dois anos, superior a dez pontos percentuais e chega quase aos 20 pontos percentuais. Já na segunda liga, há várias aproximações e ultrapassagens, fruto sobretudo das oscilações do CDS, que tanto ultrapassa o Bloco de Esquerda e aparece como terceiro partido, como desce para a liga dos últimos e fica a par com o PAN.

Percorrendo o gráfico – o que se pode fazer a dois anos, um ano e a três meses - , eis algumas das particularidades que se podem notar:

- O PSD tem hoje menos intenções de voto (25%) do que tinha quando Rui Rio foi eleito e teve o seu primeiro congresso (Jan-Fev 2018) e nos tempos seguintes em que, em principio, um líder novo tem algum estado de graça (andava entre os 26 e os 28%), ainda assim abaixo do resultado que levou à maioria absoluta de José Sócrates e à queda de Santana Lopes (28,7%).

- PS e PSD parecem andar em linhas paralelas, sem grandes sobressaltos, até entrarmos em março de 2019, quando se começa a sentir que estamos em ano eleitoral. Começam a separar-se ainda mais a partir de maio, com a ameaça de demissão do Governo por causa da contagem de tempo dos professores e as eleições europeias, e só nas últimas semanas começa a haver alguma aproximação.

- A maior diferença entre os dois partidos, com o PS a passar dos 40% e o PSD a descer a quase metade, regista-se em pleno agosto deste ano, no auge da greve dos camionistas. Só voltam a ‘valores normais’ dos últimos dois anos já com a campanha eleitoral a tomar conta das atenções.

- O partido mais estável é a CDU: nunca desce dos 7%, nunca sobe para os 8%

- O partido mais instável é o CDS, que tanto chega a ser terceiro (em Março) como a disputar o quinto lugar com o PAN. Há um ano, no auge da discussão sobre quem sabia o quê na recuperação das armas de Tancos (que levaria à remodelação de Azeredo Lopes), o CDS estava quase a alcançar o Bloco de Esquerda; em Março deste ano chegou mesmo a ultrapassá-lo e a estar como terceiro partido nas intenções de voto, talvez a rentabilizar apoios pela intenção de liderar a oposição e apresentar uma segunda moção de censura ao Governo, que foi discutida ainda em fevereiro.

- Também a polémica sobre as nomeações de familiares de governantes, que se prolongou por março e abril pode explicar os bons resultados do CDS e os maus resultados do PS, que se prolongam por abril, fruto provavelmente da greve dos enfermeiros no fim de março e da primeira greve dos motoristas de matérias perigosas, já em abril.

- Essa descida do PS é invertida em maio, com a ameaça de demissão por causa da contagem do tempo de serviço dos professores.

- O CDS consegue aguentar-se acima dos 7% nas intenções de voto até às eleições europeias. Nas urnas teve 6,1% e só conseguiu eleger um eurodeputado. A partir daí vai descendo até baixar os 5%, quase como se o resultado das europeias tivesse sido a causa da descida e não a consequência.

- A descida do CDS, em maio, assim como do PSD têm sido associadas às mudanças de posição sobre a contagem do tempo de serviço dos professores. E ambos continuam a descer Verão fora até atingirem os mínimos (PSD nos 21 e CDS abaixo dos 5%) em agosto, quando o Governo mostra uma posição de força face à greve dos camionistas de matérias perigosas e dispara para níveis de 40%.

- Bloco de Esquerda e CDU parecem andar em paralelo até maio. Aí o Bloco começa a crescer e a CDU a descer suavemente. Recorde-se que o Bloco conseguiu subir nas europeias e ganhar o segundo eurodeputado e a CDU perdeu um parlamentar. E o efeito vitória/derrota numas eleições tem, certamente, efeitos nas sondagens seguintes.

- As subidas e descidas do Bloco e as pequenas oscilações na CDU não parecem ter correspondência direta em transferências de voto do PS ou para o PS. É mais fácil associar subidas do PS a quedas do PSD e CDS.

- O PAN quase desaparece das intenções de voto no Verão de 2018 (embora haja aí algum efeito que decorre do facto de a Aximage não o incluir). Reaparece nem novembro, altura da aprovação do Orçamento do Estado em que consegue fazer passar algumas das suas propostas e cresce significativamente a partir de março, talvez fruto de uma maior preocupação ambiental associada à greve dos estudantes pelo clima. A eleição do seu primeiro eurodeputado em maio parece ter um efeito ainda mais impulsionador no crescimento até ter uma descida em agosto, talvez devido a ter sido o único partido a ir apoiar presencialmente a greve dos camionistas.

Estas são apenas algumas das notas possíveis de algum tempo a navegar pela "Sondagem das Sondagens" da Renascença. Cada um pode encontrar mais pontos de interesse e de análise.