Acabar com isolamento de assintomáticos? "Antes da Covid, com uma constipação, íamos trabalhar"
03-02-2022 - 23:30
 • André Rodrigues

Imunologista defende o fim do isolamento de sete dias para crianças em idade escolar que contactem com um familiar positivo. No regresso gradual à normalidade, que já está a ser preparado, Miguel Prudêncio diz que uma das primeiras medidas deve ser o fim da obrigatoriedade do uso da máscara.

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O investigador Miguel Prudêncio concorda com o fim do isolamento de pessoas infetadas com a Covid-19, mas que não apresentam sintomas.

A tese foi explicada na Renascença, no mesmo dia em que a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu que já está a ser preparada a fase de transição para uma nova normalidade, com o levantamento significativo das restrições atualmente em vigor.

Para o investigador principal do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa (IMM), é urgente retomar, de forma gradual, a vida tal como ela era antes da pandemia, até porque, diz, as características da variante Ómicron - com menos doença grave, apesar de uma maior transmissibilidade - dão alguma margem de segurança.

Uma das medidas que, na opinião deste especialista, poderá avançar, desde já, é o fim do uso obrigatório da máscara nos espaços públicos, "uma medida que deve ser equacionada para breve", porque, diz Prudêncio, o SARS-CoV-2 "vai ter de ser mais um vírus" com o qual convivemos, tal como acontece com outras infeções respiratórias, como a gripe ou as constipações mais ligeiras.

Miguel Prudêncio defende que se deve avançar no sentido da normalidade, mas "não se deve fazer tudo de uma vez", lembrando que é preciso continuar a proteger os grupos mais vulneráveis nesta pandemia, "como os idosos e as pessoas com comorbilidades".

O imunologista ressalva, contudo, que "uma pessoa que está doente e que tem sintomas deve tomar precauções para não transmitir a infeção a outras pessoas, mas as infeções assintomáticas devem começar a ser tratadas como as outras infeções assintomáticas de outros vírus respiratórios para os quais nós não fazemos testes generalizados".

"Até ao aparecimento da Covid, também não íamos trabalhar se estivéssemos com gripe ou febre. Mas, se estivéssemos, com uma constipação, porventura, iríamos trabalhar de qualquer forma", acrescenta o investigador principal do IMM.

Pandemia não pode continuar a prejudicar crianças em idade escolar

Miguel Prudêncio defende, exatamente, a mesma regra para as crianças em idade escolar, que coabitem com casos positivos de infeção pelo novo coronavírus.

De acordo com as regras atualmente em vigor, qualquer contacto com um caso positivo em contexto domiciliário implica o cumprimento de isolamento profilático durante sete dias.

No caso das crianças em idade escolar, o investigador do IMM defende que, nos casos em que um familiar teste positivo à Covid-19, isso não deve ser impedimento para que a criança vá à escola.

"Nós sabemos que há crianças que, por terem um familiar em casa que testa positivo, não podem ir à escola durante sete dias e acontece, por vezes, que, no final desse período de sete dias, outro familiar testa positivo e a criança tem mais sete dias durante os quais não pode ir à escola", em muitos casos, sem que a própria criança tenha testado positivo.

Miguel Prudêncio é da opinião que "isto não pode acontecer", porque "se a criança não está positiva, deve poder frequentar a escola e não deve ser sujeita a estas interrupções".

"As crianças em idade escolar não podem ser mais prejudicadas do que já foram com esta pandemia", conclui.

Na véspera de mais um fim de semana de vacinação exclusivamente para crianças, com a Diretora-Geral da Saúde a reconhecer que a adesão está longe do desejável, Miguel Prudêncio sublinha o largo consenso quanto à segurança na administração pediátrica da vacina contra a Covid-19.

Mas reconhece, por outro lado, que "há pais que até pretendem vacinar os seus filhos, mas não podem fazê-lo já, porque as crianças contraíram Covid-19 há pouco tempo e têm de esperar mais algum tempo até receberem a vacina".