Nuno Garoupa. "A direita perdeu a cabeça” e o PSD parte “completamente derrotado” para as legislativas
27-05-2019 - 03:06

Em declarações à Renascença, o investigador considera que o inverno está a chegar para os partidos de direita em Portugal. Nuno Garoupa destaca também o bom resultado do PAN e o desaire da CDU, que deve "parar para refletir".

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A direita “perdeu a cabeça” e o PSD parte “completamente derrotado” para as eleições legislativas de outubro, afirmou o investigador Nuno Garoupa na emissão especial da Renascença dedicada às europeias deste domingo.

O comentador refere que o partido liderado por Rui Rio averbou nestas eleições europeias “o pior resultado da história do PSD em termos percentuais”.

“O PSD, o que na minha opinião disse hoje ao país, foi que desistiu de ganhar as eleições. O PSD parte para estas eleições completamente derrotado. Acho que será uma grande vitória de Rui Rio se conseguir chegar à barreira dos 30% em outubro”, afirma Nuno Garoupa.

O investigador traça um cenário sombria para a direita nas próximas eleições legislativas de outubro. Se o PSD não tem possibilidades de chegar à vitória, o CDS parece condenado a regressar, quase, ao “partido do táxi”.

“O CDS neste momento, segundo os resultados que estão apurados, parte para um grupo parlamentar pouco acima do táxi. Neste momento, com os resultados que temos em cima da mesa, o CDS não elegeria deputados por Aveiro nem por Setúbal, e quase perderia os seus resultados por Braga. O CDS neste momento parte para um grupo parlamentar que é um terço do que tem neste momento e uma derrota do PSD”, assinala.

Para Nuno Garoupa, os anúncios feitos no rescaldo das europeias por todos os líderes da direita, Santana Lopes, do Aliança, incluindo, “mostram que a direita perdeu a cabeça”.

“A direita não tem condições, neste momento, de ganhar as legislativas e não assume um projeto alternativo, quer esconder os maus resultados que tem, de todos: PSD, CDS, da Aliança, do Chega e da Iniciativa Liberal, porque todos os partidos tiveram resultados muito maus, francamente maus e, portanto, acho que o Partido Socialista parte para os próximos quatro meses numa posição de um resultado bastante positivo nas eleições legislativas, mas longe da maioria absoluta.”

PSD pode ganhar votos na abstenção? “Evidentemente que não”

Para Nuno Garoupa, o PSD não vai conseguir captar muitos votos entre os quase 70% de eleitores que não votaram nas europeias deste domingo.

“Os abstencionistas são pessoas que estão fartas do regime. Como é que o PSD, partido do regime, partido que não conseguir mobilizar, sequer, nestas eleições, vai agora pescar abstencionistas? Evidente que não vai pescar nos abstencionistas. O PSD tem um problema gravíssimo pela frente”, previu o comentador na emissão especial da Renascença.

Nuno Garoupa também deixa uma crítica ao líder socialista e primeiro-ministro, António Costa, que “no seu discurso disse que estas eleições foram a vitória da vitalidade do regime”, num escrutínio com quase 70% de abstenção.

PAN terá “papel importantíssimo”. E isso é um “problema para a direita”

Nuno Garoupa destaca também o resultado do PAN – Pessoas Animais Natureza nas europeias, com mais de 5% e a conquista de um eurodeputado. O partido de André Silva “vai assumir um papel importantíssimo” e isso não é bom para a direita.

“Eu acho que o PAN é o grande problema que coloca à direita, porque o PAN representa nestas eleições Marinho Pinto, que nas legislativas de 2015 desapareceu e esses votos voltaram à direita, por isso, Passos Coelho teve os 30%. Acontece que nestas eleições o PAN não vai desaparecer, porque o PAN já tem um deputado”, argumenta o catedrático.

Nuno Garoupa considera que o PAN é “um partido com tendência para crescer, vamos ver até onde”, até porque nas eleições europeias foi “tratado como um pequeno partido” e “não teve visibilidade na comunicação social”.

CDU. Parar para refletir

O investigador considera que a CDU é um dos grandes perdedores da noite, depois do desaire nas últimas autárquicas.

Nuno Garoupa questiona porque é que os professores descontentes optaram por votar no Bloco de Esquerda em detrimento dos comunistas.

“A CDU devia fazer uma reflexão até mais grave: é porque é que os professores foram vota no Bloco e não foram votar na CDU, porque é evidente que uma grande parte dos votos que o Bloco teve esta noite, e que foi um crescendo nas sondagens, tem relação com a crise dos professores. E a questão é porque é que o Bloco beneficiou desta forma tão assinalável da crise dos professores e a CDU não. Eu acho que a CDU vai ter que fazer uma reflexão interna, porque é que não está a conseguir mobilizar eleitorado que potencialmente seria seu e está a perder esse eleitorado para o Bloco de Esquerda”, refere Nuno Garoupa.