Sampaio foi "homem de esquerda" que "intervinha com as suas emoções", diz Carvalhas
10-09-2021 - 12:28
 • Lusa

Antigo secretário-geral do PCP lamenta a perda de "um grande cidadão, com grande intervenção cívica e política".

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O antigo secretário-geral do PCP Carlos Carvalhas recorda Jorge Sampaio como "um homem de esquerda", sincero, que "intervinha com as suas emoções", lamentando a perda de "um grande cidadão, com grande intervenção cívica e política".

Em declarações à Lusa, o ex-secretário-geral do PCP disse ter recebido a notícia da morte de Jorge Sampaio, aos 81 anos, "com grande tristeza", apresentando os "sentidos pêsames à família".

"Guardo do doutor Jorge Sampaio a recordação de um homem de esquerda, de um homem sincero, de um homem que intervinha com as suas emoções e creio que é essa também a imagem que os portugueses vão guardar de Jorge Sampaio. Um Presidente da República e um lutador antifascista e um homem que sempre se posicionou na defesa das causas mais generosas", considerou.

Para Carvalhas, ex-conselheiro de Estado durante os mandatos presidenciais de Sampaio, "Portugal perde um grande cidadão, com uma grande intervenção cívica e política".

"Cruzei-me com Jorge Sampaio antes do 25 de abril, na luta antifascista , depois do 25 de abril, na Assembleia da República, em várias intervenções, na Câmara Municipal de Lisboa, na defesa de Timor-Leste, em relação à invasão do Iraque , depois no Conselho de Estado", recordou.

Questionado sobre as eleições presidenciais de 1996, nas quais era secretário-geral do PCP e em que Jerónimo de Sousa, na altura candidato pelos comunistas, desistiu a favor do socialista - que viria a ganhar a Aníbal Cavaco Silva - Carvalhas recordou-o como "um magnífico resultado para o país e para o povo português".

"Guardo com grande satisfação a decisão que tomámos e creio que foi acertada. Creio que foi positivo para o país termos como Presidente da República o doutor Jorge Sampaio: um homem à esquerda , como é sabido, e hoje ainda mais revelado por declarações recentes, que teve inclusivamente oposição de socialistas notáveis que o consideravam um homem muito à esquerda", rematou.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu hoje aos 81 anos, no hospital de Santa Cruz, em Lisboa.


Antes do 25 de Abril de 1974, foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, tendo, como advogado, defendido presos políticos durante a ditadura.

Jorge Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).

Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado em 2006 pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Atualmente presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.