"Rui Costa teve oportunidade de ouro para ser um dirigente diferente"
30-11-2021 - 18:15
 • Pedro Azevedo com Renascença

Presidente d'Os Belenenses critica todos os implicados pelo que se passou no Jamor. Patrick Morais de Carvalho considera que "há culpados e não há inocentes" e lamenta que o nome do clube esteja a ser implicado numa polémica que lhe é alheia.

O presidente do Clube de Futebol Os Belenenses culpabiliza os dois clubes e a Liga pela realização do Belenenses SAD-Benfica, jogo em que os azuis entraram com apenas nove jogadores, devido a um surto da estirpe Ómicron da Covid-19, e destaca que Rui Costa perdeu uma "oportunidade de ouro" para mostrar que é um presidente diferente do habitual.

Em entrevista a Bola Branca, Patrick Morais de Carvalho considera que o que sucedeu no jogo de sábado, relativo à 12.ª jornada da I Liga, "devia ser o fim da linha para muitos protagonistas que só têm contribuído para conspurcar" o futebol português, em que "o ar está irrespirável".

"Há culpados e não há inocentes. O principal culpado porventura será a B-SAD, porque agiu aos tropeções, aos ziguezagues. A Liga também tem responsabilidades, porque tem todas as condições e poder, e devia ter bom senso, para não permitir que um jogo destes se realizasse. O Rui Costa, presidente do Benfica, teve aqui uma oportunidade de ouro para se afirmar um dirigente diferente destes dirigentes que têm gravitado no futebol português. É alguém jovem que foi craque dentro do campo e teve aqui uma oportunidade de ouro de se demarcar e de provar à sociedade que, de facto, é um dirigente diferente", sublinha o dirigente.

Patrick Morais de Carvalho frisa que o Benfica "pura e simplesmente deveria ter-se recusado a participar" no que classifica como "palhaçada" quando percebeu que ia entrar em campo frente a nove jogadores, dois deles guarda-redes, "e uma quantidade de miúdos que nunca na vida jogaram na I Liga e, provavelmente, nunca mais vão voltar a jogar".

Rui Costa escudou-se no Regulamento de Competições da Liga Portugal, recordando que a falta de comparência do Benfica valeria a derrota e perda de pontos. O presidente do Belenenses rejeita a justificação.

"Um líder não se escusa atrás de nada e não dá justificações. Um líder toma decisões. Naquele momento, o Benfica, se tivesse tomado a decisão de não participar naquela farsa, de certeza teria granjeado o apoio de Portugal inteiro. Não tenho dúvidas nenhumas. Acabaram por estar todos mal. Foi uma atitude leviana ter-se feito esse jogo", atira.

O Benfica também não foi digno", reforça o presidente d'Os Belenenses.

Patrick Morais de Carvalho aponta que "devia haver, e não há, vergonha" e que aquilo a que se assistiu nos últimos dias tratou-se de "uma comédia, uma loucura protagonizada por gente leviana". Lote em que inclui o presidente do Belenenses SAD, Rui Pedro Soares, "e não só".

"São contínuas manifestações de profunda indiferença pelos consumidores e pelos adeptos. As pessoas ligadas a este acontecimento deram uma machadada final na credibilidade já quase zero do futebol português. Mas, com isso, o Belenenses ainda pode bem, porque ainda não chegámos ao futebol profissional", assinala.

Belenenses não quer ser associado ao sucedido


Os Belenenses demarcaram-se, num extenso comunicado, esta terça-feira, dos eventos ocorridos no Belenenses SAD-Benfica, e lamentaram que "o seu emblema e o seu nome estejam a ser conotados com um dos mais tristes episódios de que há memória no futebol português".

Nesta entrevista à Renascença, o presidente do clube do Restelo, Patrick Morais de Carvalho, reforça a posição veiculada no comunicado:

"Lamentamos, mas não podemos aceitar que o nosso nome apareça associado a esta palhaçada e sermos alvo de chacota no mundo inteiro. É o nome do Belenenses que aparece em todo o lado. A única coisa que queremos é não ser associados a isto. Do ponto de vista reputacional, é tremendo. Notícias desta natureza descredibilizam completamente o nosso nome sem que tenhamos qualquer responsabilidade."

O jogo entre Belenenses SAD e Benfica terminou no início da segunda parte, quando João Monteiro declarou lesão e a equipa do Jamor ficou reduzida a seis unidades. Ao intervalo, as águias venciam por 0-7.

Na segunda-feira, o Belenenses SAD pediu a repetição do encontro, baseando-se no art. 45.º, n.º 4 do Regulamento de Competições, segundo o qual "quando o jogo tiver sido dado por findo pelo árbitro antes do termo do seu tempo regulamentar, o resultado que o mesmo registe não será homologado, sendo designado novo jogo pela Liga Portugal, salvo nos casos expressamente previstos nos regulamentos".

O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol instaurou um processo disciplinar com "natureza urgente" ao Belenenses SAD, devido à insuficiência de jogadores que levou ao fim antecipado do jogo com o Benfica, de acordo com comunicado do organismo.