Marcelo receia novo aumento de juros e inverno desfavorável
31-08-2023 - 18:40
 • João Pedro Quesado

Presidente da República aponta que a situação portuguesa é "muito melhor que a média europeia", mas economias como a alemã podem ter um efeito de arrasto em Portugal.

Marcelo Rebelo de Sousa está preocupado com o comportamento da economia europeia e portuguesa, e receia um novo aumento de juros pelo Banco Central Europeu (BCE) quando se aguardava por uma pausa nesse processo. Foram divulgadas, esta quinta-feira, as estimativas de números da inflação, que voltou a acelerar em Portugal, e do resultado da economia durante o segundo trimestre.

Em declarações aos jornalistas à margem da sexta edição da Festa do Livro, no Palácio de Belém, o Presidente da República apontou que a situação portuguesa é "muito melhor que a média europeia", já que, em alguns países "a inflação ainda está relativamente alta".

"O resultado que temo é que o BCE possa ter a pressão para novo aumento de juros, e nós esperávamos uma folga em setembro", declarou o chefe de Estado, acrescentando que os números divulgados esta quinta-feira não são boa notícia para os "1,2 milhões" de portugueses "que olham para os juros, mês após mês, a subirem".

A taxa de variação homóloga da inflação voltou a aumentar em agosto, chegando aos 3,7%, segundo a estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE).

O INE também divulgou a estimativa da atividade económica no segundo trimestre de 2023, que aumentou 2,3% em comparação com o mesmo período do ano passado, mas estagnou em cadeia, face ao primeiro trimestre deste ano.

Marcelo Rebelo de Sousa apontou que "há países que têm uma situação económica bem pior do que a portuguesa", e que algumas dessas economias, como a da Alemanha, são importantes "para apoiar o arranque da Europa".

O chefe de Estado também receia que "os meses de final do ano e começo do ano que vem podem não ser aquilo que desejaríamos", referindo um possível arrefecimento do turismo.

"Há notícias de que, nas feiras de turismo, houve sinais de previsão para o turismo na Europa que são desfavoráveis quanto à evolução do turismo para o fim deste ano e sobretudo para o começo do ano que vem", disse Marcelo Rebelo de Sousa, antes de sublinhar a importância do setor para a economia portuguesa.

O Presidente da República frisou que a conjuntura "pode significar, para um país como Portugal, que sofre muito do contexto abrangente, não subir o turismo ao ritmo que estava a subir", assim como abrandar o crescimento das exportações. Tudo isso, teme Marcelo, pode fazer "o crescimento sofrer".

Questionado sobre um novo travão ao aumento das rendas devido à inflação, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que a resposta "só pode depender de uma análise muito cuidadosa da evolução da inflação" nos próximos meses.

Marcelo declarou ainda que está "a seguir com atenção" o pacote Mais Habitação, nomeadamente a regulamentação do diploma que escolheu promulgar, que "precisa de ser regulamentado" numa "corrida contra o tempo".

Discurso no Conselho de Estado está escrito "há muito tempo"

O Conselho de Estado de julho foi interrompido sem António Costa nem Marcelo falarem, já que o primeiro-ministro precisou de sair do Palácio de Belém para viajar para a Nova Zelândia.

Com uma nova reunião do órgão marcada para a próxima terça-feira, dia 5 de setembro, Marcelo Rebelo de Sousa recusou dizer o que está no discurso, contando que "numa reunião toma-se nota e escreve-se a intervenção", que "está escrita há muito tempo".

O Presidente da República indicou que a reunião do Conselho do Estado tem "dois pontos: a intervenção do primeiro-ministro, se ele quiser tê-la, porque ele não teve oportunidade de ter no final das intervenções dos demais conselheiros, e depois a intervenção do Presidente da República que normalmente faz uma intervenção tendo em linha de conta as dos conselheiros e fazendo um ponto da situação, agora já com mais um mês e meio de experiência".

A Ucrânia será um dos temas do Conselho de Estado de 5 de setembro, "importante do ponto de vista do condicionamento da evolução não só política, mas económica e social".

[notícia atualizada às 20h00]