Movimento Cinco Estrelas e Partido Democrático próximos de acordo de Governo em Itália
26-08-2019 - 19:56
 • João Pedro Barros com Reuters

Giuseppe Conte, que tinha renunciado ao cargo na semana passada, poderá manter-se como primeiro-ministro de nova coligação, que deixaria a Liga, de Matteo Salvini, apeada do poder.

O Partido Democrático (PD, centro-esquerda) terá retirado o veto a que Giuseppe Conte continue como primeiro-ministro e estará próximo um acordo com o Movimento Cinco Estrelas (M5S, anti-sistema) para formar uma maioria que evite eleições legislativas antecipadas em Itália, avança a Reuters, que cita fontes do PD.

A confirmar-se, o polémico vice-primeiro-ministro Matteo Salvini (da Liga, extrema-direita), ficará apeado do poder como consequência da sua própria jogada política.

Foi Salvini – que se tem tornado internacionalmente conhecido pelas posições anti-imigração e por tentar agregar a extrema-direita europeia – a provocar a crise política que já há muito se anunciava entre dois parceiros (M5S e Liga) que nunca se sentiram confortáveis numa coligação de conveniência.

O ainda ministro do Interior apresentou uma moção de censura no Senado ao primeiro-ministro Giuseppe Conte, indicado pelo M5S - que não se assume como partido de esquerda nem de direita - mas que era uma espécie de fiel da balança na união entre os partidos.

Conte renunciou depois ao seu próprio cargo, efetivamente terminando a 9 de agosto uma coligação que durou apenas 14 meses. Salvini pede eleições antecipadas, que lhe podem ser muito favoráveis: se nas legislativas de março de 2018 o M5S tinha sido o grande vencedor (com 32,7% dos votos na Câmara dos Deputados e 32,2% no Senado, face a 17,35% e 17,61% da Liga, respetivamente), nas europeias a vitória da Liga (34,3%) foi clara, face a 22,7% do PD e 17,1% do M5S. Porém, o tiro pode acabar por acertar-lhe no próprio pé, pelo menos para já.

Encontro a quatro na sede do Governo

Esta segunda-feira, a partir das 20h00 de Portugal Continental, realiza-se um encontro que deverá ser decisivo entre Conte e o vice-primeiro-ministro Di Maio, pelo M5S, e Nicola Zingaretti líder do PD, coadjuvado por Andrea Orlando, um dos fundadores do partido. A reunião vai decorrer no palácio Chigi, em Roma, sede do governo italiano e a residência do presidente do Conselho de Ministros. O local é considerado indicativo de que as negociações estão “no caminho certo”, como afirmou Zingaretti aos jornalistas.

Salvini também já reagiu ao iminente acordo entre as partes, em conferência de imprensa: “Parece que está a nascer um Governo que tem os lugares de poder como único elemento em comum, longe do país real. Quem tem medo do voto do povo não tem a consciência limpa”. De acordo com o líder da Liga, trata-de um “golpe palaciano”.

A direção do M5S reuniu-se num hotel de Roma para discutir a proposta de coligação. Os penta-estrelados, como são conhecidos os militantes do M5S em Itália, estão divididos entre os que apoiam um acordo com o PD e os que acreditam que isso abalaria ainda mais a imagem do partido, acelerando o recente declínio de apoio popular.

O Presidente da República, Sergio Mattarella, quer um sinal claro sobre as negociações ainda na noite desta segunda-feira. Apenas Mattarella pode dissolver o Parlamento e provocar novas eleições e será esse o caminho a ser seguido em caso de não haver acordo. Seja com esta nova coligação ou fruto de eleições, o próximo Governo será o 63.º no tumultuoso panorama político do país desde o pós-Guerra.