A água que vem (ou não) de Espanha
05-11-2019 - 06:10

A falta de um governo estável em Madrid não ajuda a resolver os problemas dos caudais dos rios transfronteiriços. Mas a atitude passiva dos governantes portugueses também não tem contribuído para ultrapassar estas questões.

Outubro foi mês de pouca chuva, agravando a seca em Portugal. Novembro começou chuvoso, mas não sabemos como acabará.

Entretanto, e apesar das habituais afirmações tranquilizantes das autoridades portuguesas, há mesmo problemas com a gestão que a Espanha faz da água dos rios que desaguam em Portugal. É o caso do rio Tejo.

Em agosto e setembro as autoridades espanholas escoaram, no rio Tejo, uma brutal quantidade de água, que estava em falta segundo a Convenção de Albufeira. Ora essa água, por ser excessiva, não pôde ser retida em Portugal – foi para o mar. Agora, falta água na bacia do Tejo espanhol e, naturalmente, também no Tejo português.

O Movimento pro Tejo diz que Espanha não cumpriu os caudais acordados para o rio Tejo. Este movimento defende uma nova revisão da Convenção de Albufeira, que assegure a Portugal, nomeadamente, caudais regulares vindos de Espanha. Por seu turno, o ministro do Ambiente declarou à TSF que pedir aquela revisão seria “ir buscar lã e sair tosquiado”, pois os caudais do Tejo, agora, são muito inferiores aos existentes quando a Convenção foi assinada, há vinte e um anos.

Talvez. Mas da parte portuguesa é preciso fazer qualquer coisa para ultrapassar a situação atual de grande irregularidade na quantidade de água vinda para Portugal, que muito nos prejudica. O programa do Governo prevê que o executivo português “aprofunde” com o executivo espanhol a questão dos caudais nos rios transfronteiriços.

As perspetivas das eleições de domingo próximo apontam para que, mais uma vez, não saia uma maioria parlamentar suscetível de apoiar um governo estável. Este facto, a confirmar-se, será negativo para Portugal, não só na questão dos caudais dos rios transfronteiriços.

A atitude portuguesa, a nível governamental, tem sido demasiado passiva, parecendo sobretudo empenhada em manter relações amigáveis com os governantes espanhóis. Mas estes, nos rios como no nuclear em Almaraz, ou, ainda, no gasoduto de Sines para França, não se coíbem de decidir sem, previamente, contactarem as autoridades portuguesas. Não é aceitável.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus