Almaraz. Ambientalistas pedem demissão do ministro depois de investigação da Renascença
16-05-2017 - 14:24

Coordenador do Movimento Ibérico Antinuclear diz que o ministro do Ambiente nem devia ir hoje ao Parlamento, depois de a Renascença avançar que o Exército previu em 2010 que 800 mil portugueses seriam afectados por acidente nuclear em Almaraz.

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O coordenador do Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) pede, a título pessoal, a demissão do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, depois de a Renascença noticiar em primeira mão a existência de um estudo do Exército que prevê que 800 mil pessoas em Portugal sejam afectadas em caso de acidente nuclear em Almaraz.

“Face à perspectiva de termos uma cimeira ibérica em Vila Real, no fim do mês, e face a este relatório que a Renascença hoje [terça-feira] divulgou, penso que o ministro, com honradez e hombridade, só tem um caminho: já nem sequer comparecer hoje na audição parlamentar e apresentar irrevogavelmente a sua demissão ao primeiro-ministro”, afirma António Eloy.

O líder do MIA, que junta organizações ambientalistas de Portugal e de Espanha, elogia a investigação da Renascença, cujos resultados não deixam os ambientalistas “minimamente surpreendidos”.

“Esta notícia tem um pormenor que nunca mencionámos: atribui números, uma projecção de quantos portugueses seriam afectados, que não está longe do que pensávamos, mas é absolutamente estarrecedora”, afirma o ambientalista em declarações à Renascença.

Para António Eloy, a situação é “ainda mais estarrecedora” quando da parte do nosso Governo e, “sobretudo do ministro do Ambiente, tem havido uma total incapacidade para lidar com os problemas da segurança nuclear e da hipótese de prolongamento da vida da central de Almaraz”.

João Matos Fernandes é o alvo de todas as críticas do líder do MIA. “Fez várias birras, várias manobras dissuasoras, andou a brincar aos simulacros e, finalmente, deu um parecer favorável a um relatório da Agência Portuguesa do Ambiente [que viabiliza a construção do armazém temporário de resíduos nucleares em Almaraz] que tinha todas as condições para levar um parecer negativo”, afirma.

Em comunicado, o MIA regista “sem surpresa mas com muita preocupação” a notícia da Renascença na qual “o Exército Português vem pela primeira vez confirmar que um acidente nuclear na Central Nuclear de Almaraz afecta territórios da Republica Portuguesa, estimando contaminar cerca de 800 mil portugueses”.

Autarquias e Protecção Civil não conhecem estudo

Cerca de 800 mil pessoas em Portugal podem ser afectadas pela radioactividade caso ocorra um acidente grave na central nuclear de Almaraz, em Espanha, revela uma simulação feita pelo Exército em 2010 a que a Renascença teve acesso.

A simulação tem como base um cenário idêntico ao acidente de Chernobyl, em 1986 – o rebentamento de um reactor, seguido de incêndio.

O programa simula a evolução da nuvem radioactiva nas 40 horas que se seguem à explosão e a sua deslocação pelo território português, onde chegaria 12 horas após o acidente.

De acordo com a major Ana Silva, “dada a proximidade com a fronteira espanhola, os concelhos de Idanha-a-Nova, Castelo Branco e Penamacor, onde vivem cerca de 45 mil pessoas, registam o maior nível de afectação”.

No entanto, o presidente da Câmara de Idanha-a-Nova não tem conhecimento do estudo. “Não sei se o Exército o podia ter feito, na altura que o fez [2010], quer junto da Protecção Civil, a nível nacional, quer das estruturas a nível regional. Provavelmente não tinha a obrigatoriedade de o fazer, mas podia tê-lo feito. Seria mais um elemento que acrescentava ao conhecimento que já temos sobre as matérias.” Armindo Jacinto volta a apelar ao Governo para que pressione Espanha a fechar Almaraz.

Também a Protecção Civil desconhece a simulação do Exército, apesar de coordenar a intervenção em caso de acidente nuclear.

Falta “preparação” para uma “catástrofe”

Também à Renascença, Francisco Ferreira, da organização ambientalista Zero, considera que “estes estudos e simulações deveriam ser conhecidos para se poder trabalhar sobre eles”.

Francisco Ferreira lamenta que, de um modo geral, as autoridades considerem que a probabilidade de acontecer um acidente grave em Almaraz é de tal forma pequena que Portugal não dispõe do “nível de preparação suficiente” para a eventualidade de “lidar com uma catástrofe”. Daí, conclui este ambientalista, a importância destas simulações.

Tanto as organizações ambientalistas portuguesas como as espanholas têm intensificado a sua luta pelo encerramento da central nuclear de Almaraz. Nos próximos dias 29 e 30, vai realizar-se uma cimeira ibérica em Vila Real para debater o tema. Para o dia 10 de Junho, em Madrid, está convocada uma manifestação ibérica antinuclear exigindo a discussão de um calendário de encerramento, desmantelamento e descontaminação da central nuclear de Almaraz.