Putin responsabiliza Polónia pela II Guerra Mundial e abre conflito diplomático
30-12-2019 - 15:23
 • Renascença

Presidente russo acusou a Polónia de conspirar com Hitler na Segunda Guerra Mundial e chamou “porco antissemita” a Józef Beck, ministro dos Negócios Estrangeiros durante os anos 30. Primeiro-ministro polaco acusa Putin de mentir deliberadamente sobre o país, especialmente quando as autoridades russas sentem pressão internacional.

Para Vladimir Putin, a Polónia - cuja invasão pela Alemanha é considerada pela generalidade dos historiadores como o capítulo inicial da II Guerra Mundial - foi um dos países responsáveis pelo desencadear do conflito, que durou entre 1939 e 1945.

Nos últimos dias, o Presidente russo tem abordado por diversas vezes tópicos relacionados com o evento, atacando fortemente a Polónia nos seus discursos, o que espoletou um conflito diplomático entre os dois países.

Putin começou por criticar as resoluções do Parlamento Europeu, aprovadas em setembro deste ano, uma em que se coloca em pé de igualdade o regime nazi e o comunista, e outra em que se afirma que “a Segunda Guerra Mundial foi o resultado do infame pacto de não-agressão germano-soviético também conhecido por Pacto Molotov-Ribbentrop”.

O Presidente russo considerou estas decisões “um puro disparate” e afirmou que quem tinha uma política antissemita comum com Hitler era a Polónia, apelidando o Ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, em funções na altura, de “porco antissemita” que desejava deportar judeus para África.

Para Putin, a Polónia foi um dos responsáveis pelo início da Segunda Guerra Mundial e não tem dúvidas que a ocupação soviética da metade oriental da Polónia, em 1939, ajudou a salvar vidas, e que esta era necessária porque o "Governo polaco tinha perdido o controlo do país".

A Polónia já reagiu, condenando veemente as declarações do presidente russo e acusando Putin de querer reavivar a “propaganda estalinista”, expressando “preocupação” com a falta de esforços para “procurar a verdade e a reconciliação” entre os dois países.

O Institute of National Remembrance (IPN), um órgão estatal da Polónia responsável pela pesquisa de crimes nazis e comunistas contra os polacos, também emitiu uma declaração onde contesta as tentativas de Putin de “dissimular factos fundamentais sobre o papel da União Soviética no desencadeamento da Segunda Guerra Mundial”.

O IPN considera que Hitler e Estaline procuraram, constantemente, derrubar a ordem europeia criada pelo Tratado de Versalhes e que foi o Pacto Molotov-Ribbentrop - onde se coordenou a ocupação da Polónia pela a Alemanha e pela União Soviética, ocorrida em setembro de 1939 - que espoletou a Segunda Grande Guerra.

Este instituto avança com vários exemplos de “detenções e assassinatos em massa” levados a cabo pelas autoridades soviéticas, nomeadamente, o massacre de Katyn, em 1940, no qual 22.000 prisioneiros polacos foram mortos.

Em comunicado enviado à Renascença, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, lembra o sofrimento atroz e os milhares de pessoas que perderam a vida no século XX em nome das ideologias totalitárias e a importância da manutenção da verdade sobre estes “trágicos eventos”.

Morawiecki acusa o presidente Putin de mentir deliberadamente sobre a Polónia em inúmeras ocasiões, com especial intensidade quando as autoridades russas sentem pressão internacional sobre alguns comportamentos do país.

Segundo o primeiro-ministro polaco, nas últimas semanas, Putin sofreu várias derrotas significativas: falhou na tentativa de assumir o controle completo da Bielorrússia, a União Europeia prolongou, mais uma vez, as sanções impostas pela anexação ilegal da Crimeia, e ao mesmo tempo, mais restrições foram introduzidas, desta vez pelos EUA, dificultando a implementação do projeto Nord Stream 2 (um projeto para transporte de gás natural em alto mar, entre a Rússia e a Alemanha). Em simultâneo, os atletas russos foram suspensos por quatro anos devido ao uso de doping.

Mateusz Morawiecki não tem dúvidas que as palavras do presidente Putin são uma tentativa de encobrir estes problemas e que o líder russo está consciente de que as suas acusações não têm qualquer ligação com a realidade.

O comunicado termina com a afirmação de que não se pode permitir que autores sejam transformados em vítimas, nem responsáveis por crimes cruéis em pessoas inocentes e países atacados. “Juntos, devemos preservar a verdade - em nome da memória das vítimas e para o bem do nosso futuro comum” acrescenta.

A Polónia foi um dos países mais afetados pela Segunda Guerra Mundial, estimando-se que mais de 6 milhões de polacos tenham perdido a vida.