António Costa. "Europa não se deve deixar contaminar pelo vírus da divisão"
03-04-2020 - 13:38

Em entrevista à Renascença, o primeiro-ministro manifesta confiança numa resposta solidária da União Europeia à crise provocada pela pandemia de Covid-19.

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António Costa espera que a Europa mostre união na "maior crise desde a segunda guerra mundial", evento que esteve na origem da criação da União Europeia. Em entrevista à Renascença, o primeiro-ministro português diz que "seria irresponsável deitar abaixo" o que foi construído nos 70 anos desde a criação da UE e alerta que "não nos devemos deixar contaminar pelo vírus da divisão".

"O cerne da questão é se a Europa é capaz de enfrentar este desafio de forma conjunta e solidária. É essencial que a Europa não desista de si própria e não dê uma mensagem errada aos seus povos e ao mundo, que na maior crise desde a segunda guerra mundial não sejamos capazes o que na Segunda Guerra Mundial souberam que era preciso fazer. Seria irresponsável deitarmos abaixo tudo o que construímos nestes 70 anos num momento que é só comparável com esse momento dramático da fundação da UE. Europa não se pode deixar tomar pelo vírus da divisão", diz António Costa.

O primeiro-ministro foi um dos maiores críticos da divisão na União Europeia, depois de ter qualificado de "repugnante" uma declaração do ministro das Finanças holandês, pedindo que Espanha seja investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia.

Hoekstra afirmou, numa videoconferência com homólogos dos 27, que a Comissão Europeia devia investigar países, como Espanha, que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos.

António Costa deixa para segundo plano as medidas concretas que a União Europeia esteja a ponderar implementar para mitigar o impacto financeiro da crise do coronavírus.

"Houve um momento muito tenso, mas fez muitos compreenderem que têm de dar passos em frente. São propostas interessantes, ainda não é aquilo que todos consideramos necessário, mas são passos positivos. É importante que o Eurogrupo concretize passos positivos. Não temos de nos agarrar como um fetiche mágico a nomes e designações. Fundamental é termos a capacidade de resposta a um desafio comum. Se é com eurobonds, coronabonds, apoios diretos com base no orçamento da UE, ou outro mecanismo, já são opções técnicas onde não está o cerne da questão", remata.