Aeroporto do Montijo. "O problema é pensar seguindo os interesses da Vinci"
15-02-2017 - 14:43
 • Pedro Mesquita

Especialista do Instituto Superior Técnico realça que o Montijo é a solução mais rápida, mas reitera que isso não quer dizer que seja a melhor. Fernando Nunes da Silva garante que o problema com as aves se vai colocar.

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A localização do aeroporto no Montijo está longe de ser consensual. Fernando Nunes da Silva, professor do Instituto Superior Técnico, lembra que a solução Rio Frio, Palmela, foi rejeitada para a localização de um novo aeroporto por causa do fluxo de aves entre os estuários do Tejo e do Sado.

Ora, este especialista em transportes, que no governo Guterres fez parte de uma equipa escolhida pela ANA para avaliar as possíveis localizações de um novo aeroporto, lembra que a concentração de aves é ainda maior no Montijo. Por isso, dá razão às críticas dos pilotos.

Nesta entrevista à Renascença, Fernando Nunes da Silva admite, no entanto, que o Montijo é a solução mais rápida. Mas reitera que isso não quer dizer que seja a melhor.

O Montijo é mesmo a melhor solução para o novo aeroporto?

Costuma-se dizer quando a casa está a arder, o melhor que há a fazer é chamar os bombeiros, o que não quer dizer que seja a melhor solução. Isto é, na situação actual, a que se deixou chegar o aeroporto de Lisboa, a alternativa melhor e mais viável é, de facto, o Montijo.

É aquela que permite mais rapidamente aumentar a capacidade de operação de toda esta área de Lisboa com um investimento mínimo em termos de infraestruturas de acessibilidade ao novo aeroporto e com uma proximidade relativamente grande com o aeroporto de Lisboa. Portanto, desse ponto de vista, não há nada a acrescentar.

Então qual é o problema?

Bom, o problema maior é que se começa a pensar seguindo os interesses da Vinci, que ficou com a concessão da ANA, e que se comece a pensar que isto é a alternativa à construção de um novo aeroporto para a região de Lisboa com capacidade, de facto, para responder àquilo que sejam os crescimentos de tráfego que estão estimados.

Por uma razão extremamente simples, só quero recordar que a localização do aeroporto em Rio Frio, que estava estudada desde os anos de 1960 por gente extremamente competente e sobretudo por gente que não vende o seu saber ao poder do momento, portanto, não são mercenários da ciência, nem fazem fretes a políticos da ocasião, foi chumbado devido ao problema do fluxo de aves entre o Estuário do Tejo e o Estuário do Sado.

O mesmo acontece com o Montijo…

Ora, exactamente, o Montijo está nesse mesmo corredor de migração de aves que estava Rio Frio. Pior ainda, como está em cima do Estuário do Tejo, a concentração é muito maior do que é no meio da Península de Setúbal. E portanto, o argumento que foi utilizado para chumbar Rio Frio, espero que neste momento não seja revertido para viabilizar o Montijo como solução alternativa.

Os pilotos têm razão quando se queixam do problema das aves...

Têm toda a razão. Há uma coisa que nunca me esqueço que um piloto me disse, e ainda por cima como tenho um filho que trabalha na TAP conheço bem esse assunto. É que quando aquilo der para o torto, quem tem na mão a vida daquelas dezenas ou centenas de pessoas são aqueles dois senhores ou duas senhoras que vão no cockpit.

Não seria possível simplesmente ampliar o aeroporto de Lisboa?

Ampliar o aeroporto de Lisboa dentro da cidade teria sido possível há 40 anos atrás, antes de se ter decidido fazer a Alta de Lisboa e antes de se ter decidido fazer do lado de Loures toda a ampliação de zonas industriais e habitacionais naquela zona.

O que é possível é melhorar as condições operacionais do aeroporto de Lisboa. Agora tem uma capacidade limite, não estica indefinidamente.