Confinar ciganos? Quaresma responde a André Ventura: "A vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros"
06-05-2020 - 01:57
 • Renascença

Segundo o futebolista internacional português, o líder do Chega é "triste", pois "ajoelha-se para ficar bem na fotografia, para enganar os outros e parecer um homem de bem aos olhos do povo".

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O futebolista Ricardo Quaresma utilizou a rede social Facebook, esta terça-feira, para, “como homem cigano”, repudiar o “populismo racista” de André Ventura. O jogador da seleção nacional que joga agora na Turquia ataca o líder do Chega e escreve que "a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros”.

André Ventura havia defendido um “confinamento específico para a comunidade cigana” em Portugal durante a pandemia de Covid-19. Em entrevista ao jornal "i", o deputado único do Chega sustenta que esta comunidade “se acha acima das leis deste país”, desrespeitando as regras sanitárias e de autoridade pública, o que significa, para Ventura, “um sério problema”.

“Triste de quem tenta ser alguém na vida atirando os homens uns contra os outros”, começou por referir Quaresma. E prosseguiu, referindo-se ao líder do partido de extrema-direita: “Triste de quem se ajoelha só para ficar bem na fotografia, para enganar os outros e parecer um homem de bem aos olhos do povo”.

O extremo do Kasimpasa, da Turquia, explica que é “cigano como todos os outros ciganos e português como todos os outros portugueses”. “Não sou nem mais nem menos por isso”, lembra, defendendo: “Acredito que somos todos iguais e todos merecemos na vida as mesmas oportunidades independentemente do berço em que nascemos”.

Segundo Ricardo Quaresma, a intenção de Ventura é “virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder”, ambição essa que “a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade”.

A terminar, na publicação no Facebook, o internacional português deixou um alerta: “O racismo apenas serve para criar guerras entre os homens em que apenas quem as provoca é que ganha algo com isso”. E conclui: “A nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros”.

Entretanto, André Ventura não fazendo menção ao caso, utilizou o Twitter para deixar uma mensagem. "O insulto e a difamação pública sempre foram e sempre serão as armas dos que não têm razão".

Antes, em decarações em Correio da Manhã, Ventura reagiu às palavras de Quaresma com um contra-ataque. "É lamentável que um jogador da seleção nacional se envolva em política. Espero que as autoridades do futebol não deixem que isto se torne o novo normal", afirmou o deputado do Chega.

No Facebook, André Ventura escreveu ainda uma outra mensagem. Nela reagia a uma notícia do jornal i, em que a associação de ciganos portugueses comentava o que o próprio deputado havia dito sobre aquela comunidade.

"Aquilo que foi dito pela associação dos ciganos portugueses - e que hoje nos traz a capa do jornal i - é de uma enorme gravidade e que eu não vou deixar passar em branco", afirma Ventura. "Mas mostra bem que o insulto e a difamação pública sempre foram e sempre serão as armas dos que não têm razão. Dizem que querem debater comigo : é marcar o canal, o dia e a hora. Lá estarei. Eu não fujo!", remata.

Ao jornal i a ativista Olga Mariano, afirmou que o líder do Chega “coloca tudo no mesmo saco” e está “a fazer um jogo que só no tempo do Hitler é que se fazia”.

A mesma opinião teve o presidente da União Romani Portuguesa, que lembra que “há ciganos reles e assassinos, mas há também pessoas muito sérias e não devemos meter tudo dentro do mesmo saco”.

“Cada vez que falo de alguma pessoa da sociedade maioritária que comete um crime, eu falo no nome desse senhor, não falo no geral. E cada vez que um cigano comete um crime, este senhor fala dos ciganos – onde me está a incluir”, defende José Maria Fernandes.

“Ele esquece-se de que, por muito que ataque os ciganos, os ciganos são portugueses iguais a ele”, rematou Olga Mariano, representante da comunidade cigana na Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Social, sublinhando que, muitas vezes, os ciganos se sentem como “estrangeiros na própria terra”.

[notícia editada às 11h12]