Militares "estupefactos" com ideia de recrutar jovens delinquentes
30-04-2024 - 10:05
 • Liliana Monteiro , Olímpia Mairos , Vasco Bertrand Franco

Sobe de tom o desconforto com a ideia de recrutar jovens que cometam pequenos delitos para as Forças Armadas. Depois de Nuno Melo, a ideia foi relançada pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.

"Estupefacto". É assim que Paulo Amaral, da Associação de Praças, diz ter ficado, depois de ouvir também a ministra da Administração Interna falar em colocar jovens delinquentes no serviço militar obrigatório.

Margarida Blasco concorda com Nuno Melo e defende que o serviço militar pode ser utilizado como pena para jovens que cometam pequenos crimes.

Paulo Amaral considera necessário explicar estas afirmações. “Se o senhor ministro pensa que colocando os pequenos delinquentes nas Forças Armadas será um castigo, então ainda é pior”, diz.

“Então os homens e mulheres que lá prestam serviços também estão a ser castigados? É isso que o senhor ministro quer passar para a sociedade? É isso que o senhor ministro quer dizer aos portugueses e às portuguesas: - que os militares das Forças Armadas que estão a prestar serviço, estão a ser castigados?”, questiona.

Nestas declarações à Renascença, Paulo Amaral argumenta que este “não é o melhor caminho que o senhor ministro está a ter no início do seu mandato, como ministro da Defesa Nacional”, e insiste não querer acreditar que se esteja a vender uma ideia das Forças Armadas como castigo.

“Se for, de facto, a ideia do senhor ministro, é importante referir que as Forças Armadas portuguesas, os homens e mulheres que lá prestam serviço, têm que ser tratados com muita dignidade”, defende.

O presidente da Associação de Praças entende que “levar pequenos delinquentes para as Forças Armadas, tornando as Forças Armadas, as unidades militares, em reformatórios ou casas de correção, não faz o mínimo sentido”.

“Parece-me até que isto é uma maneira sub-reptícia de criar aqui precariedade nas Forças Armadas”, atira.

Também o presidente da Associação Nacional de Sargentos diz que a medida não faz sentido. Lima Coelho lembra que um quartel não é uma instituição de reinserção social.

“As Forças Armadas não são uma instituição correcional, nem uma instituição de reinserção social. Não há muito tempo atrás, para se ingressar nas Forças Armadas era necessário ter um registo criminal absolutamente limpo. Ora, essa ideia é uma ideia peregrina que não faz qualquer sentido. Importa é perceber que Forças Armadas queremos construir”, afirma.

Entretanto, no plano político, a Iniciativa Liberal quer ouvir Nuno Melo no Parlamento sobre o assunto.