Sucessor de Merkel apresenta-se à Europa. Quem é Olaf Scholz?
10-12-2021 - 10:20
 • Marisa Gonçalves , André Rodrigues

A era de Angela Merkel chegou ao fim após 16 anos no poder. Olaf Scholz é o novo chanceler alemão e já ergueu o combate à pandemia e às alterações climáticas como as suas principais prioridades.

Olaf Scholz, o político de centro-esquerda que sucedeu a Angela Merkel à frente da maior economia da Europa, assumiu funções na quarta-feira e começa, agora, a apresentar-se aos restantes líderes europeus.

Esta sexta-feira, Scholz chega a Paris, onde se reúne com o presidente Emmanuel Macron para discutir a próxima linha de ação em matéria de políticas ao nível da União Europeia.

"A primeira visita do chanceler Scholz ao estrangeiro é uma expressão dos laços estreitos e da amizade entre a Alemanha e a França", anunciou a chancelaria alemã na quarta-feira, no mesmo dia em que o novo governo germânico, uma coligação tripartida entre sociais-democratas, verdes e liberais, tomou posse.

O chanceler segue depois para Bruxelas, onde irá reunir-se com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Na capital belga, Scholz será também recebido pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.


Quem é o novo chanceler alemão?

Olaf Scholz, de 63 anos, nasceu em Osnabruque, na Baixa Saxónia, cresceu em Hamburgo, cidade da qual foi presidente da Câmara na década passada.

Com raízes socialistas na juventude, ingressou no SPD em 1975 e foi-se tornando menos radical ao longo dos anos. Acabou por ganhar fama de pragmático e austero e o apelido de “Scholz-o-mat” (algo como “Scholz-automático”), porque seria mais “robot” do que humano.

Como secretário-geral do SPD durante o mandato de Gerhard Schröder (1998-2005), defendeu reformas sociais criticadas pela ala mais à esquerda do partido.

Liderou a câmara de Hamburgo entre 2011 e 2018, tendo-se depois tornado vice-chanceler e ministro das Finanças na grande coligação entre o SPD e CDU/CSU de Angela Merkel.

De perfil austero e discreto, Scholz é visto por muitos analistas como sucessor natural da atual chanceler.

É casado com Britta Ernst, sua colega de partido, mas o casal não tem filhos.

Priorizar o combate à pandemia

Como responsável das Finanças concebeu o pacote de auxílio durante a pandemia, na Alemanha, e também teve um papel importante na elaboração do Fundo de Recuperação da União Europeia.

Sob a sua supervisão, acertou um conjunto de ajudas financeiras no valor de 750 mil milhões de euros para ajudar as empresas e trabalhadores alemães a sobreviverem à pandemia.

Olaf Scholz tem sido um dos maiores impulsionadores da vacinação obrigatória no país. A medida faz parte dos projetos da coligação governamental com Verdes e Liberais.

Está em estudo a aprovação de um projeto de vacinação obrigatória, na Alemanha, para entrar em vigor em fevereiro ou março de 2022, e para o qual grande parte da classe política acabou mobilizada.

O aumento de casos de Covid-19 no país, nas últimas semanas, e a chegada da nova variante Ómicron fizeram soar os alarmes na comunidade médica, que já alertou para o risco de sobrecarga dos hospitais nos próximos dias, a menos que sejam tomadas medidas drásticas.

Angela Merkel esteve à frente da Alemanha durante 16 anos (de 2005 a 2021) e foi líder da União Democrata-Cristã, um partido do centro-direita, de 2000 a 2018.

Na quinta-feira, o Presidente da República condecorou a antiga chanceler com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique “pela sua extraordinária contribuição para a União Europeia, desbravando novos caminhos de construção de solidariedade, bem-estar e diálogo entre os Estados-membros, para o bem dos povos da Europa e para além, num quadro de multilateralismo ativo”.

Scholz quer Alemanha na frente da transição climática

O acordo de coligação governamental atribui também um lugar de destaque à luta contra as alterações climáticas.

No passado sábado (04 dezembro), num congresso extraordinário de ativistas do seu partido SPD deixou a mensagem de que se a Alemanha, uma das maiores economias do mundo, não acelerar a transição energética, “ninguém desenvolverá as tecnologias e ninguém mostrará aos outros como fazê-lo”, disse.

“Fazemo-lo por nós próprios mas, ao mesmo tempo, fazemo-lo por todos os outros, porque somos nós que mostramos o caminho (…), como um dos países industriais mais prósperos do mundo, com as tecnologias mais modernas e os melhores cientistas”, sublinhou no mesmo encontro.

O social-democrata atribui um lugar de destaque à luta contra as alterações climáticas e prevê o objetivo da eliminação acelerada do carvão a partir de 2030, bem como alcançar 80% de eletricidade produzida de energias renováveis.

Alemanha aguarda pela coligação “semáforo”

O SPD, de centro-esquerda, venceu por pequena margem as eleições parlamentares de setembro e por isso conquistou o direito a tentar formar um novo governo.

A coligação "semáforo" ganhou este nome por ser constituída pelos Verdes, pelos liberais do FDP, que têm o amarelo como cor oficial, e ainda os sociais democratas do SPD, que têm o vermelho no símbolo do partido.

Olaf Scholz foi eleito chanceler no dia 8 de dezembro, por uma maioria dos 736 deputados do Bundestag (câmara baixa), antes da passagem de poder, no mesmo dia, da chanceler cessante.