"Atlântida”, o navio "maldito", e subconcessão dos estaleiros de Viana sob suspeita
29-04-2016 - 15:39

Venda do navio “Atlântida” e subconcessão dos estaleiros de Viana sob suspeita. Autoridades fazem buscas em Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Aveiro e Torres Vedras.

As buscas em vários pontos do país estão relacionadas com a subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e a venda do navio “Atlântida”, revelou a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Até ao momento, ninguém foi constituído arguido no âmbito da operação com o nome de código “Atlantis”, de acordo com a informação avançada, em comunicado, pela PGR.

As diligências desta sexta-feira foram realizadas em Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Aveiro e Torres Vedras, segundo a PGR.

Houve buscas em vários locais, nomeadamente no Ministério da Defesa Nacional (MDN) e na Empordef, a 'holding' estatal para as indústrias da Defesa.

Há notícia de buscas nos estaleiros de Viana e na empresa Douro Azul, que comprou o “Atlântida”.

Fonte da Douro Azul confirmou à agência Lusa a presença de inspectores da PJ nas instalações da empresa, no Porto, mas escusou-se a comentar a investigação em curso.

A fonte adiantou que a compra do navio, entretanto vendido a uma empresa de cruzeiros da Noruega, foi feita através de concurso público internacional, pelo valor da segunda proposta mais alta apresentada pela Douro Azul.

A investigação, explica a PGR, está relacionada com "suspeitas da prática dos crimes de administração danosa, corrupção e participação económica em negócio".

Críticas do autarca de Viana: venda do Atlântida “criou mais um excêntrico”

Em declarações à Renascença em Setembro de 2015, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, apontou críticas ao processo que levou à subconcessão dos estaleiros e apelidou o navio "Atlântida" como um exemplo de negócios mal explicados em todo o processo.

José Maria Costa, uma das vozes que criticou a solução do anterior Governo para os Estaleiros, disse mesmo que “o Governo conseguiu criar mais um excêntrico, neste caso o senhor Mário Ferreira, da Douro Azul, que comprou por 7 milhões e vendeu por 21 milhões aquilo que o Estado não soube ou não quis vender por melhor preço”.

O navio maldito

A polémica esteve colada ao “ferryboat” quase desde o início. A história do “Atlântida” não começou bem e continua a provocar ondas.

O navio foi encomendado aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, em 2006, pelo Governo dos Açores, que depois o rejeitaria em 2009 devido a um nó de diferença na velocidade máxima contratada.

Concluído desde Maio desse ano, o “Atlântida” está avaliado em 29 milhões de euros no relatório e contas dos ENVC de 2012, quando deveria ter rendido quase 50 milhões de euros.

Os estaleiros estatais tiveram de indemnizar o governo regional dos Açores em 40 milhões de euros.

O "Atlântida" não foi para os Açores e acabou por ser vendido em 2004, em concurso público internacional, a um armador grego.

Mas a Thesarco Shipping não pagou os quase 13 milhões de euros que tinha proposto e o “Atlântida” acabou por ser adjudicado por 8,7 milhões de euros à empresa Mystic Cruises, do grupo Douro Azul, que tinha ficado em segundo lugar no concurso.

Menos de um ano depois, a Douro Azul vendeu o "ferryboat" a uma empresa norueguesa por cerca de 17 milhões, ou seja, o dobro do preço.

Os ENVC que construíram o navio estão actualmente em processo de extinção, tendo os terrenos e infra-estruturas sido subconcessionadas ao grupo privado Martifer, que criou para o efeito a West Sea.