Agricultores protestam e cortam estradas em Portugal. Porquê?
01-02-2024 - 18:41
 • Fátima Casanova

Arrancou esta quinta-feira um protesto dos agricultores portugueses em vários pontos do país, à semelhante do que aconteceu noutros países europeus.

O protesto dos agricultores em vários pontos do país é o tema do Explicador Renascença desta quinta-feira.

Os agricultores querem que o seu trabalho seja mais valorizado e estão a bloquear várias estradas.

Afinal, o que se passa neste setor da economia? Quais são as queixas dos agricultores?

Há uma série de problemas para os quais os agricultores têm vindo a alertar o Governo e agora, a reboque dos colegas europeus, resolveram protestar, porque dizem que precisam de mais apoios e que não conseguem fazer face às despesas, por causa de vários problemas que se arrastam há muitos meses, desde logo a seca.

Ainda há poucos dias, o Governo anunciou um corte de 15% no abastecimento de água aos agricultores do Algarve, por causa da seca. E cortando-se a água para rega, corta-se na produção de muita fruta, desde logo da laranja.

Quais são os outros problemas?

O impacto da inflação, que todos os portugueses sentem na carteira. No ano passado ficou-se pelos 4,3%, mas em 2022 chegou quase aos 8%.

Outro problema é a subida do preço das rações, pesticidas e adubos. Soma-se o aumento do preço dos combustíveis e da energia em geral, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia.

E também por causa desta guerra, a Europa isentou de direitos aduaneiros os produtos ucranianos que passaram a invadir o espaço europeu.

E há ainda as questões em matéria de proteção ambiental com uma regulamentação, que os agricultores consideram excessiva, e depois vêm os produtos de países extracomunitários que chegam aqui mais baratos.

Os agricultores foram apanhados numa espécie de “tempestade perfeita”, que fez aumentar em muito os custos de produção, mas ao mesmo tempo Bruxelas tenta seguir à risca as regras acordadas no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC), que os agricultores contestam.

Como está a situação no resto da Europa, nomeadamente em Bruxelas?

A capital belga concentrou esta quinta-feira as atenções tendo em conta que houve uma reunião extraordinária dos chefes de Estado e de governo sobre a Ucrânia.

Apesar da agricultura não estar na agenda, os agricultores quiseram fazer-se ouvir e dezenas de tratores estacionaram frente ao parlamento europeu, onde os manifestantes atearam alguns incêndios, lançaram petardos e ovos à polícia.

Mas para além da Bélgica, há protestos numa série de outros países incluindo Itália, Alemanha, Países Baixos e França. Todos criticam as regras que a Comissão Europeia está a impor.

E como é que Bruxelas está a responder?

Para já, propôs a revogação da regra que obriga os agricultores a manterem parte das terras aráveis, em pousio durante todo este ano. Esta era uma das reivindicações.

Ao mesmo tempo introduziu salvaguardas aos benefícios comerciais dados à Ucrânia e a presidente da Comissão Europeia promete também reduzir a burocracia, que é também uma queixa dos agricultores.

Quanto aos protestos em Portugal, há ainda muitas estradas cortadas e quando termina o protesto?

Não tem data prevista para terminar. É por tempo indeterminado. Esta quinta-feira à tarde, e num balanço feito pela GNR, havia 15 cortes, a grande maioria junto à fronteira entre os quais duas autoestradas: a A25 e a A6, junto a Espanha.