A mortalidade em Portugal tem vindo a aumentar, desde o início do ano, e atingiu um pico no dia 11 de janeiro, com 661 óbitos em apenas 24 horas, o maior número de mortes diárias desde que há registo.
De acordo com Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO) da Direção-Geral da Saúde (DGS), o país apresenta uma mortalidade “muito acima do esperado”.
Nos últimos sete dias foram registados mais 2.151 óbitos que o expectável. Apenas 49% das mortes em excesso são atribuídas à Covid-19, o que deixa 51% por explicar.
Na segunda semana do ano, o EuroMOMO, sistema europeu de monitorização de mortalidade, aponta um excesso de mortalidade “extraordinariamente elevado” em Portugal.
O país apresenta o maior excesso de mortes de toda a União Europeia e é o único dos 27 que integra a classificação mais alta da escala.
O último relatório da Escola Nacional de Saúde Pública revela que, no mês de dezembro, ao contrário do que está a acontecer em janeiro, não se verificou um excesso de mortalidade, “possivelmente devido aos esforços do SNS para recuperar o nível do atendimento aos utentes não-Covid-19".
Esforços que foram interrompidos depois de, no passado dia 13 de janeiro, a ministra da Saúde, Marta Temido, ter enviado um despacho aos hospitais para suspender a atividade não urgente e proceder ao adiamento da atividade cirúrgica programada de prioridade normal ou prioritária, desde que não implique risco para o doente.
O presidente Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, João Gouveia, tinha já alertado, em entrevista à Renascença, para a falta de camas no Serviço Nacional de Saúde e garantiu que há escolhas difíceis que já estão a ser feitas nos hospitais.
"Neste momento, também temos um aumento da mortalidade, o que tem a ver, entre outras coisas, com as dificuldades de tratamento. Temos muitos doentes, mais graves e dificilmente conseguimos acomodá-los nas melhores condições", disse .
Já esta segunda-feira, as Administrações Regionais de Saúde deram conta de alarmantes taxas de ocupação do SNS. Com o número de internamentos por Covid-19 acima dos cinco mil, há hospitais no limite da capacidade de resposta.
Na região Norte, há dois hospitais com taxa de ocupação de 100%, em unidades de cuidados intensivos (UCI): o Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga e o Centro Hospitalar De Trás-Os-Montes E Alto Douro.
De acordo com a mesma atualização, enviada à Renascença, há ainda outras três unidades hospitalares com taxas de ocupação superiores a 90%. São elas o Hospital de Braga, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e o Centro Hospitalar Universitário de São João.
Fonte da ARS do Norte adianta, também, que as camas complementares que resultam dos acordos e convenções com os setores privado, social e militar estão com "taxas de ocupação próximas dos 100%".
Também na região Centro a capacidade de resposta para doentes com Covid-19 aproxima-se do limite, com uma taxa de ocupação de 93% em enfermaria e 89% em UCI.
No Centro Hospitalar Universitário do Algarve a taxa de ocupação das unidades de internamento Covid-19 atingiu os 80%, quer em enfermaria quer em cuidados intensivos.
Fonte da ARS do Algarve adianta, em resposta à Renascença, que “será vital ver o impacto que as novas medidas de prevenção tomadas a nível nacional terão sobre esta tendência, uma vez que, caso esta tendência de aumento da necessidade de internamento se mantenha nos próximos dias e semanas, isso será uma situação preocupante”.