​A “internacional populista”
25-09-2018 - 06:23

O movimento anti-imigrante, anti-UE e anti-democracia liberal tem relações curiosas com o grupo adversário do Papa Francisco e também com a extrema-esquerda.

Salvini, líder da Liga e principal figura do governo italiano, “é como Trump”. Trata-se de um elogio, dito no sábado pelo ideólogo e ex-assessor de Trump, Steve Bannon. Este homem escolheu agora como sua principal tarefa unir as várias forças populistas, eurocéticas e contrárias a imigrantes, que estão a crescer na Europa. A primeira etapa deste movimento será obter um bom resultado nas eleições para o Parlamento Europeu, em maio de 2019. E S. Bannon conta com Salvini para promover a sua ideologia.

Aquela declaração foi proferida numa festa de um pequeno partido que se considera pós-fascista, os “Irmãos de Itália”, evento no qual também Salvini participou – o que não admira, pois Salvini está muito próximo do fascismo. E gosta de se apresentar com um terço e, por vezes, com o Evangelho na mão, apesar de divorciado e com um filho fora do casamento. Como se o ódio ao imigrante tivesse lugar numa visão cristã da vida.

Entre nós fala-se pouco de que a “internacional populista” que Steve Bannon tenta lançar tem também uma dimensão religiosa, embora ele seja três vezes divorciado. Em 2014 S. Bannon proferiu uma conferência no Vaticano, organizada por um instituto onde é influente o cardeal Raymond Burke, que há semanas “exigiu” a demissão do Papa Francisco. O braço direito de S. Bannon em Itália é Benjamim Harnwell, líder daquele instituto e membro do grupo anti-Francisco. O movimento de Bannon está a criar, num antigo mosteiro a 130 km. de Roma, uma academia político-religiosa, que dentro de um ano deverá promover cursos, conferências, retiros, etc. Ou seja, existe uma clara e pública articulação entre o movimento que levou Trump à Casa Branca e o grupo que, dentro da Igreja Católica, se opõe ao Papa Francisco.

Por outro lado, é notória a simpatia que Putin, ex-KGB, goza junto das principais figuras do movimento que quer destruir por dentro a UE. Basta lembrar Trump (a cúpula do movimento), Marine Le Pen, V. Orban, etc. E o próprio PCP recusou-se, no Parlamento Europeu, a votar contra as entorses à democracia que V. Orban promove na Hungria. Mas aí nada há de radicalmente novo. Marx e depois Lenine abominavam os socialistas que defendiam a democracia liberal; os comunistas consideravam-na (e consideram) um embuste. E na Alemanha a ascensão do nazismo beneficiou do facto de os comunistas não se unirem aos sociais-democratas na luta contra Hitler. O pacto germano soviético de agosto de 1939 (também conhecido por pacto Molotov-Ribbentrop) foi apenas uma expressão particularmente escandalosa dessa união entre extremos.


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