Ministro angolano diz que Luaty Beirão não se importa com a vida
04-11-2015 - 15:14

O “rapper” e activista esteve 36 dias em greve de fome contra o excesso da prisão preventiva e exigindo aguardar julgamento em liberdade.

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O ministro do Interior de Angola afirmou que Luaty Beirão, um dos 15 activistas detidos desde Junho e protagonista de uma greve de fome que durou 36 dias, "não dá muita importância ao bem vida".

"Nas suas reuniões, que alguns insistem que era para analisar um livro, e faziam a abordagem da incursão ao palácio presidencial, com crianças nos ombros, com mulheres e velhos à frente, enquanto o seu colega de grupo Domingos da Cruz [autor do livro que era discutido] defendia, que se houvesse intervenção das forças armadas, eles deveriam desistir dessa incursão para o palácio presidencial, para forçar a demissão do Presidente da República, o jovem Luaty defendia que não deveriam recuar, que deveriam deixar-se morrer", disse o ministro Ângelo Veiga Tavares, que falava em conferência de imprensa, realizada esta quarta-feira no âmbito das comemorações dos 40 anos de independência angolana.

"Por aí já se vê que é um jovem que valoriza muito pouco o bem vida", sublinhou o governante, acrescentando que chegou a essa conclusão por análises que fez e com base na avaliação por psicólogos.

O ministro angolano disse ainda que durante a greve de fome protagonizada por Luaty Beirão foi-lhe dada toda assistência no sentido da preservação da sua vida, frisando que o se verificou foi uma rejeição da ingestão de alimentos sólidos, compensada pela administração de alimentação intravenosa.

O ministro do Interior confirmou o regresso de Luaty Beirão ao hospital-prisão de São Paulo, na terça-feira, de onde saiu a 15 de Outubro, e onde se encontram os restantes 14 detidos desde Junho passado, sob acusação do crime de actos preparatórios de rebelião e atentado contra o Presidente da República.

Ainda sobre o período de greve de fome, que terminou a 27 de Outubro, o ministro disse que foram muitas as acções de solidariedade, inclusive da parte de políticos da oposição, para demover o jovem activista do seu intento.

"Registamos, com algum agrado, a intervenção de partidos da oposição, que procuraram juntar-se ao nosso esforço no sentido de persuadir, particularmente, o jovem Luaty a não continuar na greve de fome e fomos abertos a todos quantos se predispuseram para o fazer", disse.

"O próprio senhor Rafael Marques [activista e jornalista] conseguiu o meu número de telefone, ligou para mim, manifestou o interesse em recolher assinaturas dos demais para levar ao Luaty para demovê-lo, autorizamos, ele foi, recolheu as assinaturas, disse-nos que estava a preparar um texto que era para o Luaty depois assinar para levantar a greve de fome, vocês viram o texto preparado pelo senhor Rafael Marques, que depois foi assinado pelo Luaty [ anunciando o fim da greve de fome] e tornado público", acrescentou.

Planos para desestabilizar país

O ministro do Interior de Angola entende como "prudente" a detenção dos 15 activistas angolanos, para não permitir o desenvolvimento de planos apoiados por forças estrangeiras para a desestabilização do país, que previam "mortes".

Apontou, a título de exemplo, que o Governo angolano convidou em 2014 uma cidadã europeia (italiana) a abandonar o país, porque esta se reuniria com aquele grupo, supostamente dando indicações para que nas manifestações de contestação ao regime deveriam ser provocados confrontos com a polícia, gerando entre 20 a 25 mortos.

"Por isso é que em alguns casos, a polícia prefere não permitir que tais manifestações atinjam um nível de confronto para atingir esse fim. Portanto, essa cidadã europeia foi convidada a abandonar o país", frisou Ângelo Veiga Tavares.

Segundo o ministro, também em alguns círculos diplomáticos, alguns cidadãos com esse estatuto instigavam esses jovens "e coincidentemente sempre na mesma perspectiva".

"Haver confrontos para permitir - era o termo que utilizavam - a intervenção do ocidente e, por caricato que pareça, a cifra era sempre a mesma, entre 20 e 25 mortos", acrescentou.

O caso gerou uma onda de solidariedade internacional, com grupos de apoio em Angola e Portugal e reivindicações de organizações de direitos humanos como a Amnistia Internacional e a ONU.

Em Portugal, a indefinida situação política mostrou uma resposta desequilibrada por parte dos partidos políticos, com o Bloco de Esquerda a surgir como voz quase solitária a exigir a libertação de Luaty.