Cai ou não cai? Distritais do PSD divididas quanto à continuidade de Rio na liderança
07-10-2019 - 15:38
 • Renascença com Lusa

Se há quem considere o resultado eleitoral de domingo como o “possível”, há também que o veja como “o pior de sempre”. Os primeiros defendem que Rio deve permanecer na liderança, pois “os militantes escolheram-no” e “devem estar” com ele; os segundos, exigem que saia, até ao fim do ano ou logo em janeiro, nas eleições direitas, por forma a dar lugar a “novos protagonistas”.

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O presidente da distrital de Bragança do PSD, Jorge Fidalgo, defendeu esta segunda-feira que o partido tem de acabar com "questiúnculas internas" e respeitar a vontade dos militantes em relação ao líder.

Jorge Fidalgo entende que a continuidade de Rui Rio como presidente do PSD depende “da vontade dele” e, assumindo-se como um “institucionalista”, defende que a questão da liderança só deve ser discutida no momento próprio, que é o congresso marcado para o final do próximo ano. “Tal como defendemos a estabilidade no país, devemos defendê-la no partido. Se continuarmos com questiúnculas internas, dificilmente conseguiremos um resultado positivo”, afirmou.

Para o presidente da distrital de Bragança, o PSD teve a nível nacional “o melhor resultado possível, atendendo às circunstâncias”, concretamente 27,9% dos votos. “O que acho é que o partido tem de trabalhar e, fundamentalmente, haver militantes amigos do partido”, considerou.

Àqueles que defendem eleições antecipadas no PSD, Jorge Fidalgo responde com uma pergunta: “Um líder que entre agora o que é que vai fazer? Andarmos aos 'tiros' uns aos outros?”

O social-democrata defende que tal como deve ser respeitada a vontade dos eleitores nas eleições nacionais, “tem de se respeitar a vontade dos militantes”. “Escolheram um líder e é com esse líder que devemos estar”, defendeu.

O presidente da distrital de Bragança referiu ainda que “o PSD é muito maior do que qualquer militante” e que “é o partido que faz o líder e não o contrário”.

Na noite eleitoral de domingo, o distrito de Bragança contrariou a tendência nacional de derrota do PSD, atribuindo ao partido a votação mais expressiva do todo nacional, com quase 41% dos votos.

PSD de Castelo Branco considera que não tem condições de continuar

A Distrital do PSD de Castelo Branco defendeu hoje que o líder do partido, Rui Rio, não tem condições de continuar, depois de ter obtido "o pior resultado de sempre" em legislativas, disse o presidente daquele órgão, Luís Santos. "Estamos naturalmente desiludidos. Estes não eram, de todo, os resultados que esperaríamos. A nível nacional, estamos a falar do pior resultado de sempre em termos percentuais numas eleições legislativas e, perante isto, é necessária uma mudança", afirmou..

Questionado sobre se esta mudança passa pela saída de Rui Rio, o líder da distrital de Castelo Branco assumiu que "neste momento, [Rui Rio] não tem condições para continuar a liderar o partido, tendo em consideração os resultados obtidos".

Olhando para o mapa eleitoral, Luís Santos mostra-se preocupado não só com a perda percentual, mas com a perda de deputados em toda a faixa do interior, nomeadamente em Castelo Branco, mas também na Guarda, Portalegre, Évora e Beja. Segundo defende, a atual Comissão Política não tem forma de "branquear" estes resultados e tem de "assumir responsabilidades".

Em relação à altura em que essa mudança deve ser efetivada, este dirigente explica que não é muito favorável à ideia de antecipar eleições e considera que é preferível seguir o calendário do PSD, que já tem eleições diretas previstas para janeiro.

Eleito em julho para a Comissão Política Distrital do PSD de Castelo Branco, Luís Santos era o número dois da lista social-democrata ao círculo de Castelo Branco, mas não conseguiu a eleição. Um resultado que não correspondeu às expectativas, mas que não o leva a seguir o raciocínio de demissão defendido em termos nacionais, isto porque, diz, o que aconteceu em Castelo Branco é paradigmático da "estratégia errada" que foi definida pela Comissão Nacional do PSD, "sem qualquer tipo de articulação com as estruturas locais".

Este responsável lembra que o nome da cabeça de lista pelo círculo foi escolhida e anunciada dois dias antes de ele próprio ser eleito, numa situação que não desrespeita os estatutos mas que foi vista como falta de "respeito" pelos órgãos locais. "Bastava aguardar três/quatro dias para que se pudessem articular as políticas e para podermos estar em sintonia. Mas preferiram organizar as coisas de outra forma e acabaram por colocar areia na engrenagem", aponta.

Luís Santos garante que o está em causa não é o facto de não ter sido eleito, mas sim o facto de o distrito ter perdido representatividade e reitera que a Comissão Política Distrital também não fugirá a responsabilidades, pelo que vai "analisar os resultados" e continuar a trabalhar no sentido de fortalecer o partido.

PSD de Viseu quer novos protagonistas e nova estratégia

O líder da distrital de Viseu do PSD, Pedro Alves, defendeu hoje que o partido precisa de “novos protagonistas, com uma nova estratégia”, depois de um “péssimo resultado” nas eleições de domingo. “É preciso haver um refrescamento, um rejuvenescimento, uma renovação do partido. Não tem de ser necessariamente um refrescamento apenas com uma nova geração, é preciso novos protagonistas, com uma nova estratégia”, afirmou Pedro Alves, que apoiou Rui Rio na disputa com Santana Lopes.

Na sua opinião, “convinha ver resolvida a questão de uma nova liderança até ao final do ano”.

Pedro Alves, que foi novamente eleito deputado, disse que, “embora se procure considerar uma derrota positiva face às expectativas que estavam criadas, que eram baixas”, a verdade é que “este resultado não só é mau para o PSD, é sobretudo mau para o país”. “O se pretendia com estas eleições era retirar a maioria à 'geringonça'. A verdade é que isso não aconteceu e o PS, desta vez, ganhou as eleições”, frisou, considerando necessário “que o PSD faça rapidamente uma reflexão sobre o que aconteceu”.

No seu entender, o seu partido “tem que arrumar a casa o mais breve possível, criando uma dinâmica positiva e construindo unidade interna”, até porque “era possível ganhar as eleições se tivesse existido uma outra estratégia ao longo de mais tempo” e não apenas na campanha eleitoral. “A estratégia foi uma opção da direção nacional do partido, que nós procurámos também corrigir e alertar em janeiro para essa circunstância. O resultado está aí”, lamentou Pedro Alves, que se colocou ao lado de Luís Montenegro quando este desafiou a liderança de Rui Rio.

Segundo o líder distrital do PSD, “o partido mobilizou-se e envolveu-se no processo eleitoral”, apesar de “tudo o que aconteceu no processo de elaboração das listas, que trouxe alguma conflitualidade interna” e que “acabou por afastar algumas pessoas”.

O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques (PSD), também considerou que “não podem querer fazer crer que o PSD teve um bom resultado”, uma vez que “é o quarto pior de sempre e vem quebrar um ciclo de vitórias consecutivas que o PSD tinha nas legislativas desde 2009”. “Aqueles que criticaram quer o Pedro Santana Lopes, quer a Manuela Ferreira Leite, pelos maus resultados que tiveram na altura, não podem agora achar que isto foi uma retumbante vitória. Não, foi uma derrota”, realçou.

Segundo o antigo deputado, “o partido esteve mobilizado para fazer a campanha e, se não fez mais em determinados momentos, foi porque a direção nacional não quis que se fizesse”. “Talvez se Rui Rio tivesse tido, durante estes dois anos, a mesma atitude que teve nestes últimos 15 dias, eventualmente as coisas fossem de outra maneira”, afirmou, considerando que se tratou de um “problema de estratégia” do líder do partido.

Almeida Henriques defendeu que, agora, é preciso “fazer uma forte reflexão e lançar as bases de um projeto que seja mobilizador para os militantes e simpatizantes, para todos aqueles que querem construir uma estratégia ganhadora para o futuro, de centro-direita”, reafirmando os valores do PSD. “Acho que o PSD deve ir rapidamente para congresso, para que aqueles que entendem que têm um projeto alternativo que possa ser ganhador para os próximos quatro anos, quer nas eleições autárquicas, quer nas legislativas, tenham oportunidade de o apresentar, de fazer um debate alargado e depois eleger a nova estratégia”, referiu.

Na opinião do autarca, “todos os militantes que entenderem que estão bem posicionados para se candidatarem devem-no fazer, apresentando documentos estratégicos” e também Rui Rio “é perfeitamente livre de poder candidatar-se”, mas agora “é tempo de dar a palavra a militantes e simpatizantes”. Para Almeida Henriques, o debate “não deve ser feito dentro de muros”, ou seja, o PSD deve estar “virado para a sociedade e não para as suas próprias trincheiras”.