"Aquarius" provoca rombos na política europeia
14-06-2018 - 13:30

A possibilidade de Alemanha, Áustria e Itália poderem formar um “eixo” contra a imigração é uma ameaça para a estabilidade política no centro da Europa e até para o futuro do Governo de Angela Merkel.

Há um novo eixo contra a imigração que está a ganhar força na União Europeia, na sequência do caso do barco "Aquarius".

O ministro do Interior da Alemanha e o chanceler da Áustria estiveram reunidos em Berlim e anunciam disponibilidade para se unirem à Itália para lutar contra a imigração clandestina.

Numa conferência de imprensa, o ministro alemão disse que a ideia tinha partido de Roma, mais precisamente do ministro italiano Matteo Salvini, do partido de extrema-direita Liga, com quem falou ao telefone. “Ele sugeriu que Roma, Viena e Berlim trabalhem juntos ao nível dos ministérios do Interior nas áreas da segurança, combate ao terrorismo e no tema chave de imigração. Eu aceitei a proposta, vamos avançar nesse sentido”, disse Horst Seehofer.

O ministro falava depois do encontro com o chanceler austríaco Sebastian Kurz. Em julho, a Áustria vai assumir a presidência da União Europeia. O Governo conservador, em coligação com a extrema-direita, já fez saber que uma das prioridades são as politicas migratórias.

Seehofer pertence ao partido bávaro conservador União Social Cristã, formação política gémea da União Democrata Cristã da chanceler Angela Merkel. A linha dura que está a seguir quanto à imigração coloca-o em choque com Merkel, que tem sido defensora de uma política de portas abertas para imigrantes, e a tensão pode mesmo ameaçar a coligação, apesar dos esforços da chanceler ao longo dos últimos dias para conquistar o resto do partido bávaro.

O endurecimento das posições sobre a imigração, fruto da vitória nas urnas de partidos de extrema-direita, está a abrir brechas na política europeia, com França e Itália a chocarem nos últimos dias depois de Emanuel Macron ter criticado Roma por ter recusado a entrada nos seus portos do navio "Aquarius", que transporta 629 imigrantes sem documentos.

Macron diz que a recusa italiana é um ato de “cinismo e irresponsabilidade”, levado Roma a exigir um pedido de desculpa. O Presidente francês não o ofereceu, embora tenha dito que as suas palavras não tinham como intenção ofender o país nem o seu povo. Representantes das duas nações vão encontrar-se na sexta-feira para discutir “novas iniciativas” sobre imigração.

A crise do "Aquarius" acabou por ser resolvida pela disponibilidade de Espanha em abrir os seus portos, prevendo-se que o barco humanitário atraque em Valência este fim-de-semana.