11 out, 2024 - 15:48 • Olímpia Mairos
“Está tudo no chão”. É a frase — em atitude de lamento — mais ouvida nos pomares de Carrazeda de Ansiães.
A tempestade Kirk, com ventos fortes, passou por ali e provocou a queda de maçãs, algumas macieiras e postes. Os produtores falam em enormes prejuízos.
Arlindo Fonseca, de 76 anos, encontrava-se, esta manhã, no seu pomar com um grupo de trabalhadores, numa luta contra o tempo para apanhar as maçãs espalhadas pelo chão e, assim, evitar perdas maiores.
À Renascença conta que “o mau tempo deu cabo de tudo”. “Está à vista dos olhos. Estão 2/3 de maçã no chão e um no ar”, lamenta.
O produtor fala em “prejuízos muito grandes”, explicando que “a maçã para a indústria é paga a 10 cêntimos por quilo, enquanto a maçã em fresco é paga a 30 cêntimos”.
Com uma produção estimada em 300 toneladas, Arlindo vai colher muito menos e, por isso, espera que o seguro de colheita ajude a minimizar o prejuízo. Já do Governo não espera grande ajuda porque, diz, “se o Estado der com uma mão, vai tirar com duas”.
José Reixelo foi outro produtor severamente afetado pelo mau tempo. Num dos pomares, as rajadas de vento derrubaram mesmo as macieiras, arames e postes.
“É um prejuízo muito grande, à volta dos 25 mil euros”, conta, assinalando que no pomar mais afetado “vai ser preciso proceder à replantação”. “Vai ser preciso cavar a terra, comprar árvores, pôr arames, postes…”, exemplifica.
O produtor reclama ajuda do Estado para minimizar prejuízos, afirmando que, “se queremos ter produto para poder dar aos portugueses e ao estrangeiro, temos de ter condições para o colher”.
Eduardo Vieira, de 84 anos, já apanhou grande parte da fruta caída ao chão e prepara-se para a entregar, para ser transformada em sumo”.
“Vai ser a 8 cêntimos, não dá para a apanha, mas não as podemos deixar no pomar”, diz, esperando que o Governo “dê alguma ajuda”.
“Era bom que dessem alguma coisas aos lavradores, porque vivemos disto e é um prejuízo muito grande”, reforça.
Duarte Borges, presidente da Associação dos Fruticultores, Viticultores e Olivicultores do Planalto de Ansiães, conta que estavam em plena campanha e que “ainda haveria entre 30 a 35% de área por realizar a colheita”. “E dessa área que não estava colhida, teremos prejuízos na ordem dos 50 a 60% com a fruta no chão”, destaca.
“O prejuízo maior, realmente, foi uma perda de fruta que, no fundo, iria para o consumo em fresco e, com o furacão, vai, agora, para a indústria. Há uma perda de rendimento nas explorações dos agricultores”, conclui.
O responsável espera, agora, que as medidas que o Governo prometeu anunciar em breve não demorem e o dinheiro chegue rápido aos bolsos dos afetados.
“Se as medidas não surgirem, a vida será mais difícil para estes produtores que tiveram prejuízos com macieiras e postes partidos. É a produção que se perde no ano e, depois, é ter que plantar e fazer um pomar novo, ou parte de um pomar novo. No fundo são três anos à espera de nova colheita e prejuízos avultados”, explica.
O concelho de Carrazeda de Ansiães é um dos maiores produtores de maçã da região de Trás-os-Montes, onde são produzidas as variedades dos grupos Golden: Red Delicious, Gala, Reineta Parda, Jonagold, Granny Smith, Fuji e Bravo. Num ano normal produz entre 28 a 30 mil toneladas de maçã.