Porto

Helena Soares, 35 anos, professora do 1.º ciclo

É no distrito do Porto que se concentra a maioria das escolas no top 10 do ranking das escolas públicas. A melhor escola está em 27.º lugar no ranking geral, com uma média de 12.88 valores, sendo a única escola pública entre as 30 melhores. O círculo eleitoral do Porto é o segundo a eleger mais deputados para o Parlamento, com 39 mandatos, menos oito do que Lisboa.

Helena Soares é professora há 12 anos e passou por dez escolas como docente contratada, desde Lisboa até Valença, até conseguir passar a efetiva, aos 35 anos de idade. Mas isso não lhe dá a garantia de ficar colocada perto de casa. Nos próximos anos letivos, poderá ser colocada nos distritos do Porto, Braga ou Viana do Castelo.

Professores são vistos como funcionários públicos que trabalham menos

Gostava de ver mais debatidos no Parlamento os direitos dos professores, com vista a dar mais relevância aos docentes na sociedade. Os professores são vistos como funcionários públicos que trabalham menos e que têm mais férias, o que não corresponde à realidade. Alguns pais acreditam no nosso trabalho, mas há muitos que pensam que os professores existem para tomarem conta dos filhos das 9h às 17h.

Os partidos não deviam ter financiamento público

Todo o dinheiro gasto em campanhas é muito mal investido e acredito que devia ser aplicado em algo útil para o país. Os partidos não deviam ter financiamento público. Podem fazer os debates na comunicação social e cada pessoa, através da internet, pode consultar os programas dos partidos e decidir por si.

Há deputados a mais

Há imagens que passam frequentemente na televisão de deputados ou a dormir no Parlamento ou ao telemóvel. Se houvesse menos deputados acredito que estariam mais focados no trabalho. Para além disso, penso que os deputados deviam estar distribuídos de forma igual pelos distritos. Não é por haver mais deputados do Porto que saímos beneficiados, porque está tudo demasiado concentrado em Lisboa.

O tempo que se perde com burocracias devia ser investido nos alunos

É incrível o quanto a carga burocrática aumentou em 12 anos, desde a altura em que comecei a trabalhar aumentou imenso. Quando comecei a trabalhar tínhamos uma reunião por mês e os trabalhos associados aos finais dos períodos. Não considero que toda a papelada que temos de preencher hoje seja necessária, porque perde-se demasiado tempo a fazer tarefas repetidas, para pessoas diferentes e em grelhas diferentes. O tempo que se perde nisso devia ser investido em preparar aulas e devia estar focado nos alunos.

Manuais com os exercícios já feitos são péssimos para os alunos

Não concordo com a forma como os manuais gratuitos estão a ser distribuídos. Os livros são feitos pelas editoras de forma a serem preenchidos, sobretudo nos primeiros anos, e nunca é possível apagar tudo. É péssimo para um aluno estar a trabalhar com manuais onde os exercícios e atividades já estão feitos, ele sente que o seu trabalho não faz sentido porque já está feito. Se pretendemos continuar a implementar os livros reutilizados, que fazem sentido para pouparmos recursos ao planeta, as editoras são as primeiras que têm de mudar e isso deve ser exigido pelo Estado. Mas as editoras têm um grande poder e acho difícil isso acontecer.

Os exames no 2.º ano estão a ter um efeito muito negativo nas crianças

Foram implementados os exames de aferição no segundo ano, que servem para o Estado avaliar o aproveitamento das crianças em certas matérias e o desempenho dos agrupamentos e professores. Mas esta aposta está a ter um efeito muito negativo nas crianças. Há meninos que lidam muito mal com as provas, porque são demasiado pequenos para conseguirem gerir a pressão de um exame. Por mais que se diga que o teste não é para os avaliar diretamente, eles sentem que estão a ser avaliados. Há crianças que choram no dia do exame, que têm vómitos e diarreias porque não conseguem gerir a ansiedade. Obviamente que o ensino deve ser melhorado, mas penso que há medidas que se implementam apenas porque muda o Governo. Entre professores já estivemos a conversar que, se o Governo mudar, as provas de aferição mudam para o 4.º ano, se o Governo não mudar mantêm-se no 2.º.

Põe-se demasiada pressão em crianças cada vez mais pequenas

Os meninos que estão no 1.º ano aprendem aquilo que um irmão dez anos mais velho aprendeu no 2.º ano. As crianças estão a aprender certas matérias demasiado cedo e coloca-se muita pressão em meninos cada vez mais pequenos. Não acredito que a escola deva ser tempo inteiro, das 9h às 17h, porque não permite que as crianças tenham tempo para brincar. Isso reflete-se na imaturidade dos alunos. Vejo, a cada ano, que as crianças são cada vez mais infantis. Assistimos a alunos que não conseguem estar sentados à secretária. Acredito que o tempo de aula devia ser apenas das 8h às 13h e que a parte da tarde devia ser livre.

Os professores mais jovens sabem que nunca vão chegar aos escalões mais altos

A carreira de docente está cada vez mais envelhecida, porque os colegas que poderiam estar reformados já há três anos têm de trabalhar mais dez em cima disso. A reforma era dada aos 52 anos e hoje é aos 65. Os professores mais jovens sabem que nunca vão conseguir atingir os escalões mais altos, porque as vagas já estão preenchidas e, ao mesmo tempo, os professores mais velhos sentem um grande desgaste ao continuarem a exercer a profissão da mesma forma que um jovem professor. O Governo devia olhar com mais atenção para os professores, de forma a perceber que esta situação não é sustentável e com vista a uma solução que traga menos carga aos professores mais velhos e mais oportunidades aos mais novos.