Aveiro

Jorge Rodrigues de Almeida, 41 anos, empreendedor da área energética

A indústria transformadora do distrito de Aveiro representa 50% do volume de negócios da região. Com 318 projetos aprovados pelo Centro 2020, a região já recebeu 74 mil milhões de euros em fundos, a maioria direcionada para a indústria transformadora. É o terceiro círculo eleitoral a eleger mais deputados, com 16 lugares no Parlamento.

O cheiro das fábricas de celulose que se sente na A1 ao passar por Aveiro é uma das características da região. Será um dos distritos com maior necessidade de investimento para uma indústria de carbono zero, de forma a atingir as metas ambientais propostas pelo Governo para 2050. Depois de vários anos dedicado à eficiência energética, Jorge Rodrigues de Almeida criou, no município de Ovar, uma empresa dedicada ao aconselhamento de projetos ambientalmente sustentáveis, a RdA.

Com a floresta descurada, não teremos um país neutro em carbono

A meta de 2050 de redução de carbono passa por uma mudança para o uso das energias renováveis. Nesse sentido penso que Portugal está no bom caminho, mas também por uma mudança na florestas. Temos uma floresta desordenada, muito compartimentada e com uma grande área abandonada e, por estes motivos, parece-me difícil que se concretize o objetivo para 2050. Se a floresta for descurada, não poderemos ter um país com carbono neutro. Para além disso, não existe capital público suficiente que suporte esta mudança e será preciso incentivar os privados a investirem nesse sentido, um ponto que não está explicado no programa eleitoral.

Todos usam muito a palavra ambiente, mas...

Analisei alguns programas eleitorais e, no que respeita à eficiência energética, o PS e o PSD são os que apresentam medidas concretas. Ambos os programas falam nas comunidades de energia, que me pareceu uma ideia muito interessante e que devia ser implementada. Trata-se de dar a capacidade ao cidadão de produzir a sua energia e de a vender aos seus vizinhos, o que permite que o cidadão seja o dono da sua energia. No global, todos os programas usam muito a palavra ambiente, mas há muitas propostas que não estão materializadas. Os programas dos partidos mais pequenos ou não têm medidas ambientais ou não explicam como serão financiadas.

Há uma grande distância entre o cidadão e o Parlamento

Embora os deputados tenham um dia em que deviam dedicar ao seu distrito, não vejo essa representatividade. Não vejo os deputados de Aveiro a defenderem os interesses da região. Nem consigo perceber, de todos os atos que foram a voto do Parlamento, quais foram focados neste distrito específico. Como cidadão, sinto que é muito difícil acompanhar de que forma é que as políticas estão a ser implementadas e quais são os seus resultados. Há uma grande distância entre o cidadão e o Parlamento. Deveria haver melhor representatividade local.

Subir impostos não garante que a procura baixe

É um dado adquirido que devemos deixar os combustíveis fósseis para eliminar o impacto que têm nas alterações climáticas. Devemos taxar os combustíveis fósseis, mas a questão é o que fazer com essa taxação. Quando servem apenas para recolher impostos que vão para o bolo do Orçamento do Estado e que será gasto em algo indefinido é difícil que exista algum efeito prático relacionado com a taxa. Não é por existir um imposto que as pessoas vão mudar o comportamento e andar menos de carro. Sabe-se que, quando se sobe o imposto, não é garantido que a procura vá baixar. As pessoas não pegam no seu carro apenas para gastar gasolina. Andam de carro porque precisam de se deslocar e o que é preciso é arranjar alternativas apelativas e mais medidas de incentivo de compra de veículos eléctricos.

É preciso informar os cidadãos do impacto do seu consumo no Ambiente

Quando instalo uma lâmpada LED em minha casa, passo de uma utilização de 50 watts para 5 watts, mas na minha cabeça penso "isto é uma redução tão grande que agora nem é preciso desligar as luzes". O cidadão tem incentivos para fazer a redução energética, mas acaba por fazer uma utilização errada dela. Na prática, acaba por estar a consumir mais. É preciso investir em informação que leve as pessoas a perceberem o impacto do seu consumo. Devemos utilizar os recursos de forma inteligente.

Há algumas restrições inconsequentes

Se for dito que é proibido o eucalipto em todo o interior, é uma medida política que para quem está no litoral. Parece interessante porque é uma árvore associada aos incêndios, mas no interior estou a dizer às pessoas que lhes vou limitar o seu rendimento. Deixam de ter uma árvore que dá algum rendimento garantido para investirem em espécies com maior risco financeiro. Há algumas restrições que só por si acabam por ser inconsequentes. O que acaba por acontecer é o que se vê em Pedrógão Grande, com a floresta ao abandono. Na altura houve muitas promessas de reflorestação, mas nada está a ser feito. O que está a acontecer é o abandono da floresta e o eucalipto acaba por crescer espontaneamente por ser uma árvore muito resiliente, onde existe um passam a existir seis.

Faltam pontes entre o Estado e os cidadãos

Existem grandes cargas burocráticas e muitas condicionantes para as candidaturas a financiamentos públicos. Não são processos de interpretação fácil, o que leva a que o cidadão comum, ou um pequeno empresário, não consiga aceder ao financiamento. Ou investe na fase de candidatura para ter um especialista que o ajude ou faz por sua conta e acaba por se ver enredado num processo complicado. Costumamos dizer que muitos dos programas de apoio são desenvolvidos "pela malta de Lisboa em gabinetes", que acaba por estar longe da realidade e não tem uma perceção prática de como estes financiamentos são aplicados. Quando se chega ao terreno há um grande choque porque a expectativa não corresponde à realidade. Falta uma maior proximidade com associações locais que consigam fazer a ponte entre o Estado e os cidadãos.

Todos falam em políticas para o interior, mas nunca passam à prática

Se for dado um maior peso aos eleitores de uma região que tem baixa densidade vou ter que ter políticas dedicadas a esses eleitores, porque percebo que vão ter impacto nas eleições. Por muito boas intenções que um político tenha, tem sempre em visão a sua reeleição, para levar a cabo aquilo em que acredita, e vai forcar-se em quem lhe pode dar votos. Todos os partidos falam muito de políticas para o interior, mas nunca são colocadas em prática. É preciso colocar benefícios positivos nesses territórios.