06 jan, 2025 - 17:00 • Diogo Camilo
No espaço de quatro anos, o dinheiro na carteira dos portugueses ao final do mês continuou o mesmo, apesar da subida da inflação e do aumento do custo de vida nos últimos anos.
Um estudo divulgado esta segunda-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que analisou os números do INE, revela que o rendimento médio disponível de cada adulto desceu três euros em 2023, para os 1.246 euros, pois a taxa de inflação média nesse ano - de 4,3% - superou o rendimento médio por adulto, que subiu apenas 4,1%.
O valor médio de rendimento disponível por adulto, que tem em conta o rendimento médio das famílias e a taxa de inflação desse ano, mantém-se assim inalterado e é semelhante ao registado no ano de 2020.
Sem pensões ou subsídios sociais, refere o estudo, 40% do país estaria em risco de pobreza, o que coloca Portugal como o quarto país mais desigual da União Europeia em 2022, apenas atrás de Bulgária, Lituânia e Letónia.
O indicador da desigualdade na distribuição do rendimento, chamado de Coeficiente de Gini, até caiu ligeiramente em 2023 - de 33,7 para 31,9 -, mas os 10% mais ricos de Portugal continuam a ter rendimentos nove vezes maiores que os 10% mais pobres.
A desigualdade de rendimentos é maior nas regiões dos Açores e Grande Lisboa, enquanto é menor nas regiões do Oeste e Vale do Tejo e no Alentejo.
Segundo os números do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) , em 2023, cerca de 1,8 milhões de portugueses encontravam-se em situação de pobreza monetária, ou seja, com um rendimento mensal inferior a 632 euros - ou seja, cerca de 7.600 euros por ano.
Ao mesmo tempo, uma em cada cinco pessoas com mais de 65 anos vivia abaixo do limiar da pobreza, uma percentagem que subiu quatro pontos percentuais em relação a 2022 (era de 17,1%), ao mesmo tempo que a taxa de pobreza na população em geral caiu quatro décimas, dos 17% para os 16,6%.
Um em cada três inquiridos no ICOR avançaram não ter capacidade para pagar uma semana de férias por ano, fora de casa, enquanto 30% diz não ter capacidade para assegurar o pagamento de uma despesa inesperada de menos de 600 euros por mês e mais de 15% diz não ter capacidade para manter a casa adequadamente aquecida.
Para Carlos Farinha Rodrigues, investigador do ISEG e autor do estudo, o aspeto mais importante dos resultados do ICOR é “a redução expressiva da incidência da pobreza nas crianças e jovens, cuja taxa de pobreza se reduziu de 20,7% para 17,8%” - o valor mais baixo desde o início da publicação destes dados, em 2003.
Já a subida na taxa de pobreza dos idosos pode ser explicada por “alterações metodológicas no cálculo das pensões de velhice” ou pela “distribuição dos rendimentos dos idosos”, com a subida de rendimento de parte dos idosos a não ser suficiente para compensar a subida do limiar de pobreza.
Nos números do INE divulgados no final do ano passado, o risco de pobreza diminuiu quer para a população empregada, de 10,0% em 2022 para 9,2% em 2023, quer para a população desempregada, de 46,7% em 2022 para 44,3% em 2023.