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Investigadores defendem promoção do envelhecimento ativo a partir dos 40 anos

12 jul, 2024 - 06:09 • Sandra Afonso

Portugal precisa de respostas de combate à pobreza e ao flagelo da solidão, cujo impacto é comparável ao cancro, alerta Relatório do Envelhecimento.

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Para responder ao aumento do envelhecimento da população, Portugal precisa de combater a pobreza e a solidão e promover o envelhecimento ativo. São conclusões do Relatório do Envelhecimento, um trabalho dos investigadores Pedro Pita Barros e Carolina Santos, em parceria com a Fundação “La Caixa”, o BPI e a Nova SBE, no âmbito da Cátedra Economia da Saúde.

Segundo o Eurostat, em 2070, cerca de 40% da população portuguesa deverá ter 60 anos. Preparar a população para este envelhecimento “vai exigir um grande esforço aos sistemas de saúde e ao sistema de proteção social, no sentido de terem uma ação conjunta entre os diversos atores da sociedade”, explica à Renascença Carolina Santos.

Por outro lado, “vai ser necessário ter respostas sociais de combate à pobreza, apostar em políticas que permitam à população idosa participar no mercado de trabalho de forma realizada, mas também medidas que escapam um pouco ao setor da saúde, nomeadamente, garantir que as cidades e habitações estão adaptadas à mobilidade das pessoas com mais idade. É ainda muito importante criar mecanismos para controlar um grande flagelo, que é o da solidão”, conclui.

"Vivência ativa e saudável na idade adulta"

A partir dos 60 anos Portugal até compara bem com outros países, começa a ficar mal no retrato quando a análise recua para faixas etárias mais novas.

De acordo com Carolina Santos, “a população com 60 e mais anos tem uma menor performance em termos de envelhecimento ativo, mas isso deve-se unicamente à menor participação no mercado de trabalho, como é esperado, com a reforma”.

Excluído este efeito, “vemos que, na verdade, as pessoas mais velhas, com 60 e mais anos, até se sentem mais envolvidas nas sociedades saudáveis e seguras do que indivíduos mais novos, especificamente entre os 40 e 49 anos. Neste sentido, é um resultado surpreendente”, admite.

“Mais do que promover o envelhecimento ativo e saudável, que obviamente acaba por remeter para intervenções junto da população mais idosa, defendemos que se deve promover, sim, uma vivência ativa e saudável na idade adulta". A partir dos 40 anos “pelo menos”, acrescenta a investigadora.

Estas intervenções devem ser adaptadas a cada faixa etária, porque as necessidades são diferentes. Por exemplo, quem tem mais de 60 anos terá mais necessidade de exercício físico, intervenções que aumentem a segurança ou a utilização de tecnologias de informação. Entre os 40 e os 49 anos, as intervenções devem centrar-se no combate à solidão, ansiedade e depressão.

“Pandemia da solidão”, um flagelo comparável ao cancro

A investigadora da Nova SBE destaca ainda o impacto crescente da “pandemia da solidão, um flagelo da atualidade, comparável ao cancro.

“De acordo com os dados disponíveis, o efeito negativo da solidão na saúde dos inquiridos, de um sentimento de solidão frequente, equipara-se em termos de saúde reportada àquele provocado por uma doença como o cancro”, defende a investigadora. É por isso “premente e urgente ensinar intervenções que combatam o flagelo que é a solidão”.

Questionada sobre se o Sistema Nacional de Saúde está preparado para responder a este “flagelo”, Carolina Santos defende que é necessário “uma maior aposta em cuidados de proximidade”. No entanto, a resposta não deve passar unicamente pelo SNS. É também necessário que haja “respostas sociais e comunitárias para responder a este flagelo que é a solidão”.

Despesas com a saúde estão a deixar idosos na pobreza

Este estudo conclui ainda que o impacto nas despesas em saúde vai depender da morbilidade e do aumento da esperança média de vida. Controlar o primeiro e garantir um envelhecimento saudável reduz a fatura.

“O que nos interessa é que estas vidas mais longas sejam também mais saudáveis e, portanto, reduzam a necessidade de cuidados de saúde. Então, ao limitar a procura por cuidados de longa duração, estaremos também a atenuar a pressão sobre os salários dos profissionais de saúde e sobre os cuidadores formais, além de reduzirmos a necessidade de medicamentos inovadores, que têm preços mais elevados”, explica.

De acordo com a OCDE, Portugal é o 3.º país onde a despesa direta em saúde mais pesa no orçamento familiar. Estes investigadores quiseram saber quem está a ser mais afetado.

“O que vimos com dados do Instituto Nacional de Estatística é que, de facto, são os idosos e em especial as mulheres, pessoas que vivem sozinhas e aqueles com menores rendimentos e escolaridade, que estão mais vulneráveis a estas despesas diretas”, diz Carolina Santos.

A investigadora dá mesmo um exemplo. As despesas diretas em saúde da população residente em Portugal representam cerca de 5,6% do rendimento líquido dos indivíduos. Para os idosos, com 85 e mais anos, estas despesas diretas chegam quase a 11% do rendimento. “Isto, obviamente, faz com que muitos idosos estejam colocados em pobreza ou risco de pobreza, devido a despesas diretas em saúde”, defende.

Têm ainda dificuldade em aviar a medicação. No último ano, mais de 14% dos idosos disse não ter conseguido adquirir todos os medicamentos que necessitavam. Segundo este trabalho, foram impedidos por barreiras socioeconómicas: “não é a idade da pessoa que determina se está sujeita a uma barreira de acesso a cuidados de saúde, é o seu nível de educação e de rendimento”.

A probabilidade de um indivíduo com 65 ou mais anos, com escala socioeconómica superior, não adquirir todos os medicamentos é de apenas 2%. Para idosos no escalão socioeconómico mais desfavorecido, esta percentagem sobe para 27%.

São conclusões do Relatório de Envelhecimento, realizado no âmbito da Cátedra Economia em Saúde, pelos investigadores Pedro Pita Barros e Carolina Santos, da Nova SBE.

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