Siga-nos no Whatsapp

Ranking das Escolas 2023

Inflação de notas. Em mais de 30 mil avaliações finais, colégios só deram 38 negativas

12 jul, 2024 - 00:00 • Diogo Camilo

Quando alunos de escolas privadas chegaram aos exames nacionais, quase cinco mil foram chumbados. As dez escolas com maiores diferenças entre notas de exames e média interna são privadas. Nos colégios, as notas mais dadas no final do ano letivo foram o 19 e o 20.

A+ / A-
Peça. Inflação de Notas e Ranking das Escolas 2023
Ilustração: Salomé Esteves/RR

Veja também:


Em Vila Nova de Famalicão, os alunos do Didáxis — Riba de Ave partiram para os exames nacionais do secundário do ano passado com confiança. Não era para menos: a média interna da escola a Português era de 17 e a de Matemática, 16. Biologia era a melhor disciplina, onde os alunos tinham 19,3 de média — e a pior nota no final do ano tinha sido um 18.

Mas as provas nacionais mostraram uma realidade bem diferente: a Português e a Matemática só dois alunos tiveram mais do que 16 (um 17 e um 16, respetivamente), e quase metade teve negativa nas duas provas. A Biologia e Geologia, a melhor nota no exame foi um 18,6 — abaixo da média da escola — e, nas três provas, a nota média não foi além dos 12 valores.

No final de contas, o Didáxis — Riba de Ave foi a escola em que as notas internas mais se desviaram das notas dos exames: a diferença foi de 7,7 valores.

Mas o colégio de Famalicão não é caso único. O fenómeno da inflação de notas é antigo e bem conhecido e levou o Ministério da Educação, desde 2019, a reforçar a vigilância nas escolas, chegando a abrir processos disciplinares. Em 2023, foram analisadas 39 escolas por suspeita de inflação de notas (duas delas públicas) e todas receberam recomendações de aperfeiçoamento dos critérios de avaliação. Em sete, cujos nomes nunca foram revelados, a Inspeção Geral da Educação (IGEC) exigiu mesmo a reposição imediata da legalidade.

Este ano, o fenómeno amplificou-se: as médias de exames nos colégios privados estão quase cinco valores abaixo das médias internas — no ano passado andavam nos 4,2 valores.

No final do ano letivo passado, a média interna dos colégios ficou acima dos 17 valores, enquanto a média dos exames desceu para os 12,4 valores (estava nos 13 no ano anterior), ou seja, uma diferença de quase 5 valores. Nas escolas públicas, a diferença foi substancialmente menor, na casa dos 3,5 — a média de exames subiu ligeiramente para os 11,4 e a média interna manteve-se nos 15 valores.

A diferença de médias entre o público e o privado é assim maior na média interna (2,2 valores) do que nos exames (1 valor), revelando que, no final do ano, a forma como colégios e escolas públicas olham para as notas não é igual.

Três escolas destacam-se entre as que têm menos inflação de nota, já que, apenas nestas, a diferença entre a avaliação interna e os exames nacionais foi menos do que dois valores (e toda estão entre as 50 melhores no Ranking da Renascença).

O Colégio Bartolomeu Dias, em Loures, é o que tem o menor desvio entre provas internas e exames: 16,2 e 14,9 valores, respetivamente. A escola privada já tinha sido a que tinha tido menor diferença no ano passado.

As outras duas escolas com menores diferenças são a Escola Henrique Sommer, em Leiria, e o Colégio Manuel Bernardes, em Lisboa.

Do lado oposto, 37 escolas registaram médias de exames cinco valores abaixo da sua média interna. Além do Didáxis — Riba de Ave, só mais uma escola tem média interna sete valores acima da média de exames: o Colégio da Associação Cultural e Recreativa de Fornelos, em Fafe.

As 10 escolas com a maior diferença entre os resultados nos exames e a nível interno são todas colégios privados.

Maior diferença entre exames e nota interna a Filosofia

Por disciplinas, é a Filosofia que se encontra o maior desfasamento entre as notas dos exames e as notas internas: a diferença entre os resultados foi de 3,5 valores — 10,9 no exame e 14,4 na média interna.

Entre as oito disciplinas que contaram para o Ranking das Escolas da Renascença, seis delas tiveram uma diferença superior a dois valores quando se olha para os exames e as notas internas.

Só num exame, o de Inglês, é que a média ficou a menos de um valor da média interna das escolas.

A Matemática, a média interna das escolas foi de 13,6. No exame, a queda é grande e as escolas ficaram perto dos 10 valores. No exame de Português, a média foi de 12,4, enquanto a média interna foi quase três valores acima, ficando-se pelos 13,8.


Só 0,1% das notas de colégios são negativas. Em exames, um em cada cinco alunos chumbou

Olhando a fundo para as notas internas dos colégios, encontramos mais incongruências: entre mais de 32 mil notas atribuídas no final do ano letivo de 2022/23, apenas 38 foram negativas — cerca de 0,1% do total.

Nos exames, entre quase 25 mil notas dos alunos de escolas privadas, quase cinco mil foram negativas – uma percentagem bem superior à anterior, de quase 20%.

A nota interna mais frequente no ensino privado foi o 19, seguido do 20. Entre 32 mil notas dadas, quase 13 mil foram as duas notas máximas e nas disciplinas de Inglês, Biologia, Física, Economia, Psicologia e Educação Física, mais de metade dos alunos tiveram 19 ou 20 no final do ano letivo.

No ensino público, ao contrário do privado, a nota mais dada internamente foi o 17, seguido do 16 e do 18. Foram registadas mais de 15 mil notas internas abaixo de 10, para uma percentagem de negativas de 2,5% — 20 vezes maior do que no privado.

Entre as principais disciplinas, a que teve mais 20 foi Inglês, com cerca de 8% dos alunos a terem nota máxima. A Matemática, a nota mais habitual voltou a ser o 10, enquanto a Português foi o 14.

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+