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Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue cientistas e ativistas de agricultura sustentável

11 jul, 2024 - 19:15 • José Pedro Frazão

O galardão de um milhão de euros, que distingue contributos na área climática, vai este ano para o programa Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming (Índia), para a plataforma de ONGs SEKEM (Egito) e para cientista Rattan Lal (EUA). O júri, presidido por Angela Merkel, avaliou 181 candidaturas, de 117 nacionalidades, representando o maior número de sempre de nomeações e de diversidade geográfica propostas para o prémio atribuído anualmente pela Fundação Calouste Gulbenkian.

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Ao quinto ano, o Prémio Gulbenkian para a Humanidade premeia pessoas e organizações que contribuem para a segurança alimentar, resiliência climática e proteção dos ecossistemas a nível global. A edição de 2024, que partiu de um número recorde de propostas, distingue de forma complementar três nomeados na área da agricultura sustentável, que vão partilhar o prémio criado pela Fundação Calouste Gulbenkian para distinguir indivíduos e organizações que contribuem para enfrentar as alterações climáticas e destruição da natureza.

Um dos vencedores é o projeto Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming, na Índia, que se dedica ao apoio a pequenos agricultores, predominantemente mulheres, na transição para uma agricultura natural.

Implementado pela organização sem fins lucrativos Rythu Sadhikara Samstha (RySS) (Farmers Empowerment Cooperation), o projeto vencedor é descrito como o maior programa de agroecologia do mundo, com mais de um milhão de pequenos agricultores, sobretudo mulheres, em 500 mil hectares na região de Andhra Pradesh.

O projeto propõe a utilização de resíduos orgânicos, a reintrodução de sementes autóctones e a diversificação de culturas, que, de acordo com os gestores do projeto, resulta no aumento da produtividade das colheitas.

“Nos próximos 10 anos, este programa pretende chegar aos oito milhões de agregados familiares de agricultores que vivem em Andhra Pradesh e inspirar a sua replicação noutros locais”, pode ler-se no comunicado da Fundação Calouste Gulbenkian, apontando para a implementação do modelo em 12 estados da Índia e em cinco países do chamado Sul Global.

O prémio vai também para a SEKEM , uma organização não-governamental do Egito, que trabalha na chamada "agricultura biodinâmica", que se centra na regeneração de solo árido com o envolvimento da comunidade local.

A plataforma aposta sobretudo na Associação Biodinâmica Egípcia, a maior associação de agricultores independentes do Egito "que dá apoio na transição de modelos agrícolas convencionais para modelos agrícolas regenerativos, o que, por sua vez, promove o desenvolvimento rural".

Em comunicado, a organização revela já ter apoiado cerca de 10 mil agricultores e convertido mais de 12 mil hectares de terra.

Finalmente, no lote de galardoados está Rattan Lal, de origem indiana, professor norte-americano de Ciência dos Solos na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos. Aos 79 anos, este professor americano de Ciência dos Solos desenvolveu a sua carreira de investigação em torno da agricultura sustentável e da resiliência climática.

Em 2024 foi o mais citado académico na área da agronomia e tem recebido os mais prestigiados prémio mundiais do setor, como o World Food Prize em 2020, o Japan Prize em 2019 ou o Plant Science and Agronomy Leader Award em 2024.

Citada pela Fundação Calouste Gulbenkian, a presidente do júri, Angela Merkel, considera que os vencedores deste ano demonstraram, de forma exemplar e prática, como os sistemas alimentares sustentáveis podem contribuir para a resiliência climática.

“O acesso a uma alimentação de elevada qualidade nutricional é de importância vital para todos. As alterações climáticas, e o aquecimento global que daí resulta, provocaram um aumento de fenómenos climáticos extremos e põem em perigo a segurança alimentar global. Esta situação implica um desafio adicional a todos os que se dedicam ao setor agrícola”, assinala a antiga chanceler alemã.

Para António Feijó, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, “cada um dos premiados demonstrou um grande empenho na transformação das práticas agrícolas, provando que os modelos sustentáveis podem prosperar em ambientes desafiantes e diversos. O seu trabalho demonstra os benefícios da agricultura sustentável para as comunidades e para o planeta”.

O Prémio Gulbenkian para a Humanidade já foi atribuído em edições anteriores a Greta Thunberg, ao Pacto Global de Autarcas para o Clima e a Energia, ao Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) e à Plataforma Intergovernamental Científica e Política sobre a Biodiversidade e os Serviços dos Ecossistemas (IPBES), a Bandi “Apai Janggut”, líder comunitário tradicional da Indonésia, Cécile Bibiane Ndjebet, ativista e agrónoma dos Camarões, e Lélia Wanick Salgado, ambientalista, designer e cenógrafa brasileira.

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