24 set, 2024 - 11:25 • Hugo Tavares da Silva
Quando saiu do Benfica, sentiu uma “grande desilusão” nas entranhas. Rúben, que ainda não era Rúben Amorim, tinha 13 anos. Depois, recuperou a felicidade e a vontade de treinar no CAC da Pontinha, em Lisboa. No Corroios descobriu o valor do tempo. Ganhou segundos e minutos e horas para outras coisas, até para a escola. “Ter tempo para mim ajudou-me a crescer como jogador. Esta é uma mensagem que gostaria de deixar aos pais.”
A citação de Rúben Amorim é extraída de um capítulo escrito pelo treinador no livro “Não é só futebol, estúpido”, do ex-futebolista Hugo Leal, escrito a quatro mãos com Filipe Mendonça, antigo jornalista e consultor de comunicação.
Ao longo de seis páginas, Amorim explica o que sentiu como jovem, reflete sobre a formação dos treinadores que treinam jovens e que têm uma responsabilidade acrescida e ainda sobre as experiências que lhe permitiram ser o homem que é hoje.
Para além do treinador que tem somado títulos, dos consensos que o sufocam, da admiração, há também o clique comunicacional que embala os que vestem uma camisola igual à sua, mas também aqueles que suspiram por algo semelhante na sua vida.
Depois de Benfica, CAC e Corroios, o orgulho tinha o tanque cheio e confiou que ainda podia ser jogador. Por isso, foi tentar a sorte no Belenenses. E aí os desafios, as aprendizagens e as lições fizeram-no jogador.
“O conhecimento que funciona e dá resultados é aquele que é capaz de responder a todas as dúvidas e dar segurança a quem é liderado por nós. As pessoas e as equipas crescem na segurança, na estabilidade e na confiança”, explica na página 136 do livro que é apresentado esta terça-feira, em Cascais.
O treinador do Sporting, com a mirada fixa no bicampeonato, admite que os jovens de agora chegam mais preparados fisicamente para as agruras e desafios do futebol sénior… porém, “a realidade é que também chegam um bocadinho formatados”.
Ou seja, “deparam-se com problemas que já não conseguem resolver da maneira como resolveram a vida inteira”, salienta. “Eles chegam ao futebol profissional com falta de alguns ‘porquês’ e depois sentem-se um bocadinho perdidos. Há respostas que não têm. Nesse sentido, é importante que o processo de formação os obrigue a pensar, a questionar e a perceber que as coisas têm um motivo.”
É por isso que destapa uma reflexão valiosa: “Dei por mim a pensar que temos a estrutura dos cursos de treinador invertida. O nível máximo é atribuído para treinar uma equipa principal, mas deveria ser ao contrário. Os treinadores da formação têm de gerir detalhes muito mais delicados e decisivos na definição do ser humano que está à sua frente”.
Voltando ao início, a Rúben que ainda não era Rúben Amorim, o atual treinador do Sporting reflete ainda sobre a infância. Mesmo miudinho, não gostava de jogos anárquicos, das peladinhas e das brincadeiras, muito menos de jogar sozinho, de bater bolas contra uma parede, tentar truques, fintas e magicar artimanhas.
“Sempre fui fascinado pela organização, não gostava muito do lado aleatório e lúdico do jogo”, admite em “Não é só futebol, estúpido” de Hugo Leal, que saiu recentemente do Estoril Praia onde esteve ligado à formação, e Filipe Mendonça. O ex-futebolista, que se deu a conhecer no futebol sénior no Restelo (onde jogou com Hugo Leal), confessa que “sempre quis perceber tudo o que estava a acontecer” nos treinos. E, claro, via muito futebol, o que desconfia que não acontece hoje em dia entre a canalha…
O livro de Hugo Leal é apresentado esta terça-feira, dia 24 de setembro, às 18h30, no Auditório Dra. Maria de Jesus Barros, em Cascais.
O lema da obra, que permitiu ao ex-futebolista perceber que não teve uma carreira banal (segundo o próprio), é “transformar vidas através do desporto”. Resumindo, trata-se de pensar “o papel do futebol como escola de vida, de valores, espaço seguro onde damos a todos nós a hipótese de errar”.