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Futsal

Esta é a história do Sassoeiros, o campeão que perdeu o capitão a meio da época: "Sempre que recordamos o Samuka, ele está vivo"

12 jul, 2024 - 15:05 • Redação

Treinador e companheiros contam como foi lutar pelo título também para homenagear Samuel Furtado, o capitão que morreu num acidente de viação. "Era um menino com um coração do tamanho do mundo, um exemplo para muita gente sobre a forma de estar na vida e no desporto."

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O Clube de Futebol de Sassoeiros, um histórico do futsal nacional, sagrou-se campeão da terceira divisão nacional. O clube de Carcavelos perdeu, a meio da época, o seu capitão Samuel Furtado, Samuka no mundo do futsal, que faleceu num acidente de viação. Tinha 32 anos.

A equipa necessitou de se juntar. Agarrou-se ao que tinha e lutou por algo bem maior do que apenas um título: uma homenagem a quem tanto tinha dado ao clube.

Depois da perda do seu líder, o Sassoeiros ganhou um motivo extra para lutar pelo seu objetivo de subir de divisão. “Tínhamos uma razão competitiva para lutar pelos nossos objetivos, mas agora tínhamos também uma razão de homenagem”, conta Cláudio Cardoso, treinador principal do clube, em conversa com Bola Branca.

Os jogadores queriam “vingar” mais por Samuka do que efetivamente por eles próprios, explica Duarte Simões, colega de equipa. O objetivo passava por fazer de Samuel Furtado bicampeão nacional. Na época passada, tinha sido campeão também da terceira divisão, ao serviço do Monfortense.

Ruizinho, ala de 31 anos, conheceu Samuel em 2011. Na altura, jogaram juntos ao serviço do Sporting Clube Vila Verde. Foi ele o primeiro da equipa a receber a notícia desavinda.

“Foi no dia 6 de janeiro de manhã…”, começa a contar. Ruizinho recebeu a chamada de um amigo e ouviu do outro lado que o companheiro de equipa tinha sofrido um acidente. Ruizinho rapidamente ligou para o número de Samuel. Foi um familiar quem atendeu e deu a notícia. “Ninguém está preparado para uma situação dessas”, lamenta.

Cada um fez o luto à sua maneira. Uns mais rápido, outros de forma mais demorada. “Lidámos juntos, mas, ao mesmo tempo, cada um respeitou o espaço do outro”, explica Duarte Simões.

Ficou um clima muito pesado, de acordo com o ala de 23 anos. “A equipa não se conhecia. Tínhamos todos a cabeça desligada”, acrescenta.

O próprio treinador, Cláudio Cardoso, confessa que a equipa técnica acabou por não exigir tanto do plantel, dando até a oportunidade aos jogadores de não treinarem durante um tempo. Essa opção foi recusada pela equipa. No entanto, as dificuldades, principalmente na produção em termos de jogos, estavam presentes. “Isso tudo está assente no lado emocional”, atira.

Onde é que se vai buscar forças para seguir com os objetivos? De acordo com Simões, há quem diga que foi o próprio Samuka a dar-lhes a força necessária. No final de contas, “ele como nosso líder merecia algo do clube e da nossa parte”, remata Ruizinho.

Cardoso, o treinador, garante que tudo passou por uma ajuda mútua entre jogadores e equipa técnica. O desafio passava por a equipa reencontrar-se e continuar o seu trabalho, sempre lembrando o seu capitão.

Para o técnico, o simples ato de lembrar era a maneira certa de homenagear o capitão: “Sempre que o recordamos, ele está vivo. É a grande homenagem que podemos deixar a um colega e amigo”.

Duarte Simões sentava-se ao lado de Samuel no balneário. Esse lugar não voltou a ser ocupado, seja por respeito ou por superstições. E ele passou a notar coisas mínimas, a que antes estava habituado, que agora já não aconteciam. “O simples gesto de chegar as pernas para o lado e sentir o vazio…”, exemplifica.

Mesmo que se tivessem esquecido dele, o que garante que não aconteceu, esse simples gesto voltava sempre a trazer à memória o facto de ele não estar lá.

No final de uma “época que não teve nada de normal”, o título de campeão foi para o clube de Carcavelos. Ao olhar para trás, é impossível não relembrar todos os obstáculos que tiveram de ultrapassar, partilha Duarte Simões.

O jogo da conquista foi no dia 8 de junho. O Sassoeiros, que só precisava de um empate para se sagrar campeão, venceu em casa a equipa do São João, por 7-2.

“A um minuto do fim sentei-me no banco e fui falando com ele até aos segundos finais”, confessa Cardoso, falando de Samuka. “Disse-lhe que já estava, que era dele.”

E continua: “São nas coisas mais simples que recordamos o Samuka, porque é um dos nossos. Ele encarnou perfeitamente a tarefa de deixar um legado”.

O técnico garante ainda que, esteja onde estiver, o capitão estará certamente muito feliz e orgulhoso da conquista, que, no final do dia, “também é dele”.

É um misto de emoções, garante Cardoso. “Muita alegria associada à tristeza que em nós permanece, por o nosso colega não estar junto de nós a festejar ao nosso lado”.

O treinador mostrou-se muito orgulhoso de todos os seus jogadores: “Antes do jogador vem o homem e aqueles jogadores mostraram que são homens de grande caráter”. A equipa nunca se deslumbrou com a felicidade, nem se afundou na tristeza, assim descreve os contornos de um equilíbrio difícil de alcançar. “É um orgulho ver como a equipa se comprometeu toda a época.”

No dia da morte de Samuel Furtado, o treinador fez uma promessa: tudo faria para subir de divisão enquanto campeões. Depois disso, havia outra coisa: “Ia dar a minha medalha ao Samuka”, partilha. A promessa foi cumprida.

Para além desta homenagem, toda a equipa fez uma visita ao cemitério, exatamente no dia seguinte a serem campeões.

Samuel Furtado, nascido a 7 de julho de 1991 e natural de Sintra, foi como um “irmão desde o primeiro dia” para Ruizinho. “Era uma pessoa que levava a vida com felicidade e que procurava levar essa felicidade a todos”, conta ainda Duarte.

No fundo, “era um menino com um coração do tamanho do mundo”, nota Cláudio Cardoso. Mas era, acima de tudo, “um exemplo para muita gente sobre a forma de estar na vida e no desporto”.

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